domingo, 8 de abril de 2018

PANTERA NEGRA (2018)






    Tenho imensa dificuldade de escrever sobre o que, a mim, se encontra muito acima da média. Por esse motivo, dentro dos estilos que me atraem mais, nunca escrevi sobre o livro “1984” e os filmes “Batman: Cavaleiro das trevas” e “Capitão América: Soldado invernal”. No entanto, existe casos tão extraordinários que mesmo sabendo da minha inabilidade em abordar os porquês de sua real relevância, é impossível não registrar minha rasa opinião.

  Uma dessas exceções é o filme de maior sucesso do ano, que, além de levantar a autoestima de um público que se via apenas como coadjuvante, vem colecionando recorde atrás de recorde e mostrando que o tido como “exótico” ou fora do padrão, quando trabalhado com talento e honestidade podem ser a receita do sucesso. Trata-se de “PANTERA NEGRA”, o décimo sétimo filme da Marvel, Dirigido por Ryan Coogler e estrelado por Chadwick Boseman, Lupita Nyong’o, Michael B. Jordan e grande elenco, que chegou de forma sorrateira e mostrou suas garras ao mundo.


O filme dá sequência a história do príncipe T’challa (Boseman), o Pantera negra, apresentado em “Capitão América: Guerra Civil”, com o herói retornando à seu reino, a misteriosa e desenvolvida, embora dissimulada como país de terceiro mundo, Wakanda; para enterrar seu pai, morto durante a trama do terceiro filme do líder dos vingadores,  dar inicio aos rituais de sua coroação e  tratar de assuntos  de interesse do estado como  a captura do inimigo número um do país, Ulysses Klaue (Andy Serkis). É durante essas suas  obrigações que T’challa  se vê diante de um antagonista à sua altura e uma verdade capaz de o fazer questionar os valores que fazem um rei.

  O Filme consegue dar sequência aos já habituais sucessos da Marvel, ao mesmo tempo em que inova ao apostar em uma trama mais séria mirando em assuntos  como a questão da crise dos refugiados, racismo e representatividade, mas sem com isso perder nada em diversão e ainda, de quebra, apresentando uma mitologia jamais antes mostrada com o valor merecido, e que disse a quem quis ouvir, com o sucesso do filme, que deve continuar sendo explorada.

   Essa mitologia, que dá  protagonismo as cores e ritmos da África, é em grande parte o segredo do sucesso do filme. A cultura africana, que sempre foi, de forma preconceituoso, tida como algo de segunda linha e de menor valor para uma sociedade que sempre foi norteada por padrões europeus e que vem sendo descoberta como rica e digna de orgulho pelas novas gerações, se une a ficção científica e uma trama de espionagem para colocar na tela um filme onde o negro é protagonista de sua própria história e capaz de a resolver sem o intermédio de nenhum salvador externo seus problemas e os de quem os cerca.

   Mas para uma trama que fuja tanto do padrão habitual fazer o sucesso que o filme vem fazendo, ainda mais dentro do universo dos super-heróis onde a representatividade ainda é mínima, é necessário um elenco capaz de fazer com quem assista ao filme acreditar no que está vendo. E isso é uma das maiores certezas do filme e o segundo motivo que levaram “Pantera negra” a se tornar uma das dez maiores bilheterias de todos os tempos. Com atores do nível de Chadwick Boseman , Lupita Nyong’o,  Michael B. Jordan, Danai Gurira, Daniel Kaluuya,  Forest Whitaker entre outros, representando personagens imponentes e orgulhosos, sem dizer que tridimensionais e sem a mínima carga de submissão a uma sociedade que os subestima, fica ainda muito mais fácil ao filme divertir, ao mesmo tempo que passa uma mensagem sutil de amor  próprio e orgulho das raízes, sem precisar diminuir caricaturar ninguém que é diferente.

  Sabendo do segredo do sucesso do filme, que, como já disse, a meu ver, são resultado da química entre a mitologia apresentada e o elenco de talento, não posso deixar de falar também de outras três peças chaves em “Pantera Negra”, que são o protagonista que se impõem sem precisar sabotar os demais personagens, O vilão que consegue passar uma mensagem a ponto de ser compreendido e a força das personagens femininas que sustentam a trama.

   Sempre fico feliz quando a trama não mima o protagonista, precisando diminuir os que o rodeiam para eleva-lo e, em “Pantera Negra”, isso acontece abertamente. A história protagonizada por T’challa se mantém forte, mesmo quando ele não se encontra em destaque, mas quando o mesmo está em cena, consegue impor sua força a ponto de se tornar marcante, tanto através dos conceitos e valores que formam o personagem, quanto pela imagem do herói e da  atuação bem a vontade que Chadwick Boseman consegue transmitir.

  Quanto ao vilão Erick Killmonger , interpretado por Michael B. Jordan (que mesmo com tudo que faz, o vejo mais como antagonista), O fato de começar em um papel secundário dentro dos próprios opositores do protagonista na trama  e ir crescendo a ponto de se tornar um oponente à altura do herói e com motivos críveis, como a vingança pelo pai e a revolta por ver seus iguais abandonados por Wakanda, quase fazem que esqueçamos seu extremismo e violência, só relembrando nas cenas finais do filme, mas que são abafados, ao término da história, por uma das frases que o filme deixou marcada, colocando Killmonger como um dos antagonistas memoráveis do cinema atual.

"Jogue-me no oceano com meus antepassados que pularam dos navios, porque sabiam que a morte era melhor do que a escravidão." Killmonger

   Em terceiro, mas não menos importante, temos a força feminina presente na trama. E que força! Não é preciso muita atenção para ver que as mulheres dão o movimento ao filme. Seja com a inteligência de Shuri, a irmã caçula do agora Rei T’challa, que cria diversos dispositivos de espionagem ao herói, além de ser o personagem responsável pelo bom humor e uma pitada de inocência na trama, colocando alguns sorrisos e nós  na garganta de quem assiste ao filme. Do mesmo modo temos Nakia (Lupita Nyong’o) que embora interesse romântico do herói, não se limita ao papel de donzela apaixonada e além de colocar a mão na massa, trabalhando como espiã e guerreira, ainda trás para o herói, questionamentos quanto ao posicionamento do país frente aos problemas do mundo e tomando para si a responsabilidade de defender o reino, quando Killmonger surge e T’challa some. Também não podemos deixar de falar das Dora Milage, A guarda pessoal do rei de Wakanda, composta só por mulheres, que tem na general Okoye (Danai Gurira) seu principal nome; é ela que tem grandes cenas de ação, como no Cassino clandestino e na perseguição de carros pelas ruas de Seul, mas que também empresta força dramática ao demonstrar, após metade do filme, o peso da dedicação total ao estado que o cargo exige e que simboliza o sacrifício de algumas escolhas exigem, situação que  fala ainda mais alto observando sua condição feminina e os desafios e obstáculos que nosso mundo impõem às mulheres fortes.
  
Nakia & Shuri
    “Pantera Negra” é um sucesso de público e critica. Surpreendeu o mundo ultrapassando a marca de um bilhão de dólares arrecadados ao redor do globo e reafirmou o orgulho de um publico acostumado a se ver no cinema como elenco de apoio ou vilão, quase sempre marginalizado ou precisando de ajuda. Tornou-se uma marca no cinema e símbolo de orgulho ao mostrar para sociedade que filmes de pessoas negras, onde a eterna luta para se destacar contra o preconceito não é o assunto principal, mas sim uma trama onde o negro, visto como pessoa, seja dono de sua história com altivez e orgulho, dá destaque ao estúdio e muito lucro, sem contar que gera a empatia em quem, antes não acostumado a assistir um grande filme ambientado na África (mesmo um África imaginária) agora enxerga com mais facilidade o negro em todas as facetas, seja de vilão, herói, piadista, cientista, rei ou soldado mas principalmente longe do estereótipo.

    Por essas e outras acredito que “Pantera Negra” já é o destaque do ano, mesmo que tenha estreado em Março e se causou certo desconforto em algumas mentes mais reacionárias que não conseguem admitir o empoderamento do negro devido a uma África fictícia, mas que vibram com sete reinos mágicos e Asgards encantadas, a mim só trouxe felicidade por tudo que expus no texto acima, me ajudando a desbloquear minha capacidade de escrever sobre algo que, a mim, está acima da média dentre seus iguais e afirmando a certeza de querer assisti a mais histórias de Wakanda e seu protetor nos cinemas em breve.  

 Wakanda Forever!



3 comentários:

  1. Erik Killmonger me pareceu um excelente personagem que deu uma boa luta ao protagonista e que inclusive conseguiu roubar alguma atenção dele. Michael B. Jordan me surpreendeu com sua boa atuação. O papel que vai realizar em o novo filme de fahrenheit 451 será uma das suas melhores atuações. Ele sempre surpreende com os seus papeis, pois se mete de cabeça nas suas atuações e contagia profundamente a todos com as suas emoções. Além, acho que a sua participação neste filme realmente vai ajudar ao desenvolvimento da história.

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    1. Concordo! Jordan vem se destacando muito. É um grande ator e marcou com sua interpretação.

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