quinta-feira, 12 de outubro de 2017

"GUERRA DO VELHO" de John Scalzi

   


    A vida é uma guerra onde, ano após ano, vamos sendo expostos a todo tipo de atrocidades e frustrações. É nela onde criamos laços com outros como nós, mas logo nos habituamos a perdê-los e, se temos sorte, chegamos ao final da última batalha com boas histórias, alguns arrependimentos e muita saudade. Mas, e se aos setenta e cinco anos, tivéssemos uma nova chance de começar do zero, nos atirando as cegas em uma viagem sem volta, onde a única certeza é uma nova vida com muito mais aventura e violência, você toparia?
     O “E porque não?!” para essa questão, é o que dá início a trama de  “guerra do Velho”, livro do escritor John Scalzi, publicado no Brasil pela editora Aleph e que, como uma rajada de MU-35, chegou para quebra meu hiato para falar sobre o que eu mais gosto: ficção científica.

    O livro conta a história de um futuro onde a raça humana chegou à era das viagens interestelares e passou a colonizar diversos planetas, tendo contato com outras civilizações, das quais muitas hostis. É nesse universo que conhecemos John Perry, um publicitário aposentado e viúvo de 75 anos, que se alista nas forças coloniais de defesa (FCD) e parte para o espaço em uma viagem sem retorno para defender nossas colônias, sem imaginar quantos terrores e maravilhas presenciaria após sua última decisão no planeta Terra.


   
Edição da Apleph
Gostei bastante do livro, mas tenho que confessar que minha primeira impressão da história foi negativa e se estendeu assim quase até a metade da trama. Algumas das coisas me desagradaram foram, as muitas semelhanças com “Tropas Estelares” de Robert A. Heinlein e a mentalidade extremamente aberta e “pra frentex” de senhoras e senhores de 75 anos, mas superei a primeira ao focar mais nas diferenças entre as histórias dos autores do que suas semelhanças e a segunda me colocando no exato lugar do protagonista e seu grupo de amigos, que receberam ao final da vida uma nova chance de se aventurar e conhecer coisas novas, em uma situação como esta, se apegar a preconceitos e costumes do passado, não melhoraria a vida nova de ninguém.

   Mas a coisa que mais me desagradou, foi o fato de que tudo acontecia de maneira extremamente perfeita para o protagonista; ele é o cara mais simpático e agradável do mundo e que acaba se cercando dos velhinhos mais bacanas, inteligentes e descolados já na viagem até a nave que os levará ao lugar de seu treinamento; após as melhorias nos corpos dos recrutas (das quais falaremos adiante) é ele quem pega a recruta mais gostosona, é ele quem vira o queridinho do sargento que os treina e que, por isso, é eleito líder de pelotão, é ele quem, em sua primeira batalha, descobre como vencer os inimigos mais perigosos das FCD, é tudo muito perfeito... Aí eu me toquei que o livro é narrado em primeira pessoa e que o protagonista é publicitário, ou seja, ele estava colocando um pouco de “tempero” em si mesmo para se vender como o maior herói que já existiu, em um detalhe tão sutil e brilhante de Scalzi, que mudou minha percepção da história após eu nota-lo.

   



Mas fora esses desagrados iniciais com o livro, “Guerra do Velho” apresenta conceitos muito bacanas e sua história vai crescendo em uma medida tão acertada, que se torna bem difícil para um fã de ficção científica se decepcionar com o que o autor apresentou ao final das trezentos e sessenta páginas. Para começar temos toda a ideia de tecnologia das FCD, começando com a resposta para, como alguém consegue lutar em uma guerra, após os 75 anos de idade? Pois bem, no universo do livro, a raça humana teve contato com outras raças a quase um século e com isso, acesso a muitas tecnologias que se tornaram segredos das colônias, uma dessas tecnologias, é a transferência de consciência e é isso que possibilita a ida dos recrutas à guerra.  Na história, quando se chega aos 65 anos de idade, a pessoa decide se quer fazer parte das FCD dez anos mais tarde e nisso, vários testes são realizados e amostra de sangue e pele retirados, o que os futuros soldados desconhecem (pois nenhum cidadão da terra sabe nada do que ocorre nas colônias) é que um novo corpo, repleto de alterações e melhorias, vai sendo maturado e deixado a sua espera, para quando este  resolver de uma vez sair de seu planeta natal. E o corpo é incrível! Com olhos de Gato para enxergar melhor na penumbra, com corpo na melhor forma atlética possível, com sangue que transporta mais oxigênio e coagula mais rápido para evitar hemorragia, um computador e assistente pessoal instalado no cérebro e uma pele verde rica em clorofila para ajudar a obtenção de energia.

   
Scalzi
 Mas o que mais me agradou foram os conceitos referentes aos alienígenas que as FCD vão de encontro para garantir a segurança dos colonos Terráqueos no universo. Os primeiros a aparecer em batalha e grandes rivais misteriosos da humanidade, são os aliens conhecidos como “Consus”, uma raça extremamente avançada e detentora de tecnologias infinitamente a frente das que aparecem no livro, mas que se limita a ir a campo de batalha com as armas no mesmo nível dos rivais que encontram. Sua aparência é descrita como semelhante a de um inseto meio humano, com quatro braços, sendo que os de cima são duas lâminas extremamente afiadas que eles também utilizam como arma e suas entradas nos planetas são sempre realizadas com rituais e cerimônias, tornando as intensões e razões desses inimigos misteriosas. Também temos os Covandus, seres humanoides de algumas polegadas, que conseguem um relativo sucesso contra a raça humana utilizando sua força aérea em miniatura, ou o misterioso fungo da colônia 622, uma entidade coletiva inteligente que dominava o planeta e que esperou o momento oportuno de atacar e matar todos os colonos adentrando pelas vias aéreas dos coitados e excretando ácido em seus pulmões, fato que faz com que a raça humana desista do planeta em questão, ou ainda os antropófagos Rraeys, criaturas de características que lembram aves e que enxergam na raça humana uma iguaria sem igual; são estes últimos os responsáveis pelo massacre do planeta Coral, o ponto de virada do livro e que dá início a uma sequência de batalhas e lutas que alavancam a trama com muita ação.


   Pois bem, Eu poderia escrever parágrafos e mais parágrafos sobre o livro, citando a relação do protagonista com seus amigos, seu crescimento dentro das FCD, explorando a possível ditadura e, quem sabe, distopia por de trás do governo colonial, ou simplesmente falando sobre as “Brigadas Fantasmas” o time de elite das FCD, mas como na maioria dos livros que resenho, não fiz questão de me aprofundar para que quem conhecer por aqui e se interessar pela obra, não tenha suas expectativas totalmente estragadas por esse texto. Deixo aqui só a certeza de que "Guerra do velho” é um livro divertido e que apresenta um universo extremamente interessante e para quem, assim como eu, se incomodar com um protagonista que não erra, digo para ter paciência; para quem enxergar semelhanças com outras obras, calma, há muito mais originalidade do que homenagens. Faça então como os recrutas da FCD e deixe de ser velho leia a obra de John Scalzi e mergulhe em uma viagem sem volta repleta de aventura, ação e violência, tal qual as batalhas da vida, mas com garantia de muito mais diversão do que frustrações.


2 comentários:

  1. Bah!! Quero ler..parece ser muito legal

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    1. E um livro muito bacana.. tem seus problemas, como eu falo acima... mas, principalmente do meio para o fim, dá um salto em ritmo e diversão que prende o leitor e planta a semente para comprar a sequência "Brigadas fantasma"

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