sábado, 21 de outubro de 2017

ELECTRIC DREAMS (2017) - a série antológica de Philip K. Dick



Final de ano não é fácil meu amigo! Eu que elegi o setembro como meu mês de apocalipse, acreditava que o outubro seria mais tranquilo, mas aí começou o ciclo de férias de meus colegas e meu trabalho duplicou, vendi meu carro e não consegui transferir devido à burocracia do banco e, nem mesmo “Blade Runner 2049” consegui assistir no cinema! Mas tudo isso são “White man’s problems”, (mesmo eu não sendo branco!) e como já faz tempo que sigo a máxima de Confucio de que “Se o mundo está de pernas para o ar, queixo pra cima”, resolvi desencanar e dar uma relaxada. Foi quando fui surpreendido por um presente entregue pela emissora inglesa Channel 4, a todos fãs de Philip K. Dick, a produção “Electric Dreams”, uma série antológica onde cada episódio é baseado em um conto do autor e que mudou o status do meu mês de “tem que melhorar”, para “nada mau”!

A Série, que contará (pois no momento que escrevo se encontra na metade) com dez episódios em sua primeira temporada, estreou no canal inglês nesse último dia 17 de Setembro e traz em seu elenco grandes nomes do cinema para dar vida aos personagens imaginados por Dick, como Benedict Wong (“Dr. Estranho”), Steve Buscemi (Cães de aluguel), Terrence Howard (Homem de Ferro), Bryan Cranston (Breaking Bad), Vera Farmiga (Invocação do Mal) entre muitos outros atores e atrizes que, somados a diretores conhecidos do publico gringo, dão peso a produção da terra da rainha.

Até o momento assisti aos quatro primeiros episódios e o que posso dizer é que a série consegue adaptar com bastante competência todos os conceitos, questionamentos e estranheza que marcam as obras de Philip K. Dick, com a vantagem de ainda possuir todo charme das séries inglesas, que sempre me pareceram menos voltadas para efeitos especiais mirabolantes e mais inclinadas para o roteiro e realização da história.

Sobre esse peculiar clima inglês presente na série, o próprio canal responsável pela obra carrega uma grande parcela do crédito. Já calejada em produções de sucesso, como a minissérie de terror “Dead Set” e sendo quem transmitiu originalmente as duas primeiras temporadas da aclamada “Black Mirror” (ambas as obras de Charlie Brooker), o Channel 4 segue levando ao público um conteúdo que atende as expectativas de quem é fã de ficção científica ou de realidades fantásticas, mas sem perder aquele clima melancólico e acinzentado da Inglaterra e que parecem aproximar as situações mais absurdas com a realidade.

Mas chega de falar de produção e vamos ao que interessa: As histórias.




Como eu disse acima, a série segue o tom dos questionamentos que pautaram toda a obra de Dick, como sua dúvida sobre o que é a realidade, o que nos torna humanos e nossa evolução como espécie, só que de uma maneira muito mais fiel à obra do escritor do que qualquer outra adaptação fez anteriormente, pois embora muitos dos contos e livros de PKD tenham sido levados para o cinema (o próprio Blade Runner é o maior exemplo) muito se utilizou do conceito, mas quase nada teve daquele espirito psicodélico que mesclava o quase absurdo (dê uma olhadinha no livro UBIK) com visões de um futuro não muito otimista e dúvidas humanas, coisa que essa antologia fica muito mais próxima, o que agrada muito a quem é fã, mas pode causar um estranhamento a quem só conhece o escritor por suas adaptações cinematográficas.

Steve Buscemi, como Ed
Nesse contexto de estranheza, nenhum episódio que assisti vence o intitulado “Crazy Diamond”. A história se passa em uma realidade onde tudo que é orgânico começou a se degradar e apodrecer, tanto a comida, como a própria terra e até mesmo as pessoas, parecem caminhar em passos rápidos para a entropia, mas a ciência ainda busca uma solução, então se criam as “Consciências Quânticas” (Os CQ), uma espécie de “pilha genética” baseada nos genes de porcos, que revitaliza aqueles que começaram a falhar, em uma ideia de mundo que lembra, também, o que o autor apresenta no livro UBIK, só que nesse conto não se encontra dentro de um sonho de “meia vida”, mas na realidade. Nesse Universo conhecemos Ed (Steve Buscemi), um cientista especialista em CQ que sonha em fugir do mundo em deterioração em uma viagem pelo mar, junto com sua esposa, até uma distante ilha onde ainda reina a normalidade; só que o aparecimento de uma mulher misteriosa o acaba prendendo a uma trama que envolve conspiração, contrabando e traição.


Robô RB29, do ep: "Planeta impossível"
Outro que chamou minha atenção, justamente por ser o contrário do comentado acima por ser muito mais pé no chão (dentro do que alcança o autor) foi o episódio “The Commuter”, que longe de falar de tecnologia ou futuro, se passa nos dias de hoje e aborda dimensões paralelas. Nessa história, o ator inglês Timothy Spall vive Ed (também) um funcionário de uma estação de trem, que vive um momento familiar difícil, com crises constantes de seu filho que sofre de bipolaridade e o afastamento visível de sua mulher; é quando em seu trabalho uma passageira lhe pede uma passagem para uma estação que não consta nos mapas ou registros e simplesmente desaparece; intrigado ele resolve pegar o trem e investigar, chegando um uma misteriosa cidade no meio do nada, aonde a felicidade e paz chegam a perturbá-lo. Chegando em casa, tudo está mudado, não há registros do nascimento de seu filho e sua mulher está muito mais próxima e amorosa, como se uma nova linha de tempo fosse formada, mas dia após dia, Ed vai sentindo que algo está faltando e resolve voltar a cidade, percebendo que o dia que vivenciou lá parece se repetir e que aquela felicidade toda, talvez não valha a fuga da realidade.

Gostei bastante dos episódios que assisti. O estilo puro de Philip K. Dick, abordando o futuro, dimensões paralelas, inteligência artificial, sem negar os questionamentos humanos, misturado com o estilo inglês de produzir TV, que além do clima britânico que transmite todo um ar de melancólico ainda brinca com as cores, dando mais tons pastel quanto mais imaginativa e estranha é a situação, conseguiu me segurar até o final de cada episódio.

 Então, se você quiser mergulhar em um universo baseado na mente brilhante de um dos grandes nomes da ficção científica e que mudou o status do meu mês, assista a “Electric Dreams” e dê uma chance para toda maravilha e estranheza que são frutos da Obra de Philip K. Dick.


Fica a dica.


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