quarta-feira, 26 de julho de 2017

POWER RANGERS (2017) e que venha o meteoro !



"O bater de asas de uma borboleta pode influenciar o curso natural das coisas e criar um tufão do outro lado do mundo." Essa frase, que tenta definir o "efeito borboleta", parte integrante da teoria do Caos, foi utilizada de maneira conceitual inúmeras vezes na cultura pop para dar movimento à histórias onde um acontecimento pequeno estimula uma série de eventos que culminam, geralmente, em uma grande catástrofe. No entanto, jamais uma produção havia sido resultado desse efeito até Março desse ano, quando, com a influência de um curta que dava ares sombrios a uma franquia televisiva voltada para crianças, a Lions Gate trazia para o cinema "POWER RAGERS", o reeboot cinematográfico da aclamada série dos anos noventa que apresentou para uma geração a cara americanizada do universo dos super sentais japoneses.

"Power Rangers" reconta o início da história de cinco adolescentes (Jason, Billy, Zack, Trini e Kimberly) que encontram as moedas do poder e com a orientação do extraterrestre Zordon, se tornam os defensores da terra contra os malignos planos de dominação de Rita Repulsa.

OK, eu sei que a primeira coisa que passou pela sua cabeça é: "Por que esse tiozão está falando de Power Rangers?" E essa é uma pergunta muito justa, ao se imaginar que o público alvo da produção, não diferente da antiga série, são as crianças e pré adolescentes. No entanto, a curiosidade para saber como esse filme, que brotou da ideia de um curta feito para a internet e que incluía mortes e traições ao colorido cotidiano da molecada residente da Alameda dos Anjos, seria executado foi o que me fez gastar duas hora da minha vida e que me fez escrever esse texto.

Para começar, vamos falar das coisas boas que o filme referencia, iniciando pelo clássico do diretor John Hughes, o "Club dos Cinco". Assistindo os primeiros vinte minutos não podemos ignorar a influência do filme de 1985, que mostra a amizade de cinco jovens problemáticos (também três rapazes e duas moças) que surge após o encontro na detenção da escola e esse artifício é bem utilizado para explicar como pessoas tão diferentes acabam mais do que se conhecendo, como dando oportunidade de quem anteriormente ignoravam entrarem em suas vidas, com destaque para o companheirismo que surge entre Jason e Billy. O personagem do Power Ranger vermelho mesmo, vive uma cena que é praticamente um control C Control V do filme de Hughes, quando tem um diálogo com o pai no estacionamento da escola onde fica claro seu conflito pessoal; Soma-se a isso, que ele , tal qual o personagem de Emilio Steves em "Club dos cinco" também é um esportista frustrado e que se sente oprimido pela expectativa da família.
Outra referência que o filme me trouxe foi o filme "Poder sem limites" do diretor Josh Trank, onde amigos entram em contato com uma descoberta misteriosa e desenvolvem poderes telecinéticos em uma trama que acaba revelando quem realmente é quem, o que me parece claro ao mostrar que a vilã do filme foi uma ex-integrante dos Power Rangers corrompida pelo poder que vislumbrou. Isso ainda se soma ao já mencionado curta, que é referenciado no prólogo da história, que se passa na era dos dinossauros e onde vemos as consequências da batalha da antiga equipe comandada por Zordon e a destruição causada por Rita.

Uma turminha do barulho
No entanto, todas essas coisas boas e referências estão reunidas na primeira meia hora de filme e quase desaparecem da mente do espectador a partir do momento em que o grupo se encontra na pedreira, onde descobre as "moedas do poder" e começam sua jornada para transformarem-se nos defensores da vida na terra. Depois desse evento, o filme muda de tom e começa a se aproximar da ideia da série original, proporcionando cenas e diálogos capazes de constranger até mesmo o público alvo da produção televisiva clássica. Começando pela grande barriga do filme, que é a dificuldade dos protagonistas "morfarem" e que se estende por mais de vinte minutos da trama em um lenga lenga que não agrega nada a história; essa dificuldade se revela ainda o ponto mais decepcionante de todo o filme, pois só vemos os personagens vestidos de power rangers quando faltam apenas vinte e seis minutos para a história se encerrar, ou seja, em setenta e cinco por cento de filme não temos a presença dos personagens que dão nome ao filme.

A decisão de apresentar a trama com a mínima presença dos super-heróis, remete a uma história de origem que foca mais na pessoa do que em seu alter ego, seguindo a fórmula de sucesso do primeiro filme do Homem-Aranha, de 2002; mas nem mesmo isso é aprofundado, pois temos apenas menções aos problemas dos protagonistas, que se apresentam na forma das constantes brigas de Jason com o pai, que não são explicadas, pois apenas somos informados que ele era o capitão do time de futebol americano da escola e que machucou a perna em algum acidente (que não é mencionado) e se transformou em um frustrado rebelde mimado, ou o fato de Billy estar no espectro autista e ter perdido o pai recentemente, também ao fato de Zack ser um ferrado que mora em um acampamento de trailers e cuidar da mãe doente, ou de Trini não conversar com os pais porque (aparentemente pelo diálogo que "os cinco malandros tem em volta do fogueira") ela é lésbica. No entanto, nenhum arco fez menos sentido para a história do que o de Kimberly, a ranger rosa.



Kimberly, foi mandada para a detenção por um fato terrível e que se revela como o principal motivo dela não conseguir morfar (sempre isso!), ela roubou um nude de uma amiga, que havia ficado com seu ex-namorado e enviou ao mesmo questionando se era aquele tipo de garota que ele queria apresentar para seus pais! A foto se espalhou pela escola (pelo menos parece ter sido isso) e ela acabou na detenção, sem contar que antes disso ela ainda bateu no EX... Esse problema poderia ser melhor resolvido, se a personagem, durante a história e pelo seu passado, se sentisse tentada a se debandar para o lado da vilã e assim conseguisse se redimir se sacrificando ao final ou dando um exemplo de redenção, mas não, quem a vilã tenta persuadir é a ranger amarela (porque é gay!), enquanto isso, ainda vemos o líder da equipe (Jason) dizer a nefasta postadora de nudes alheios que muita coisa circula pela internet e para ela não ficar preocupada, COMO ASSIM?? ISSO É CRIME CARA!! o arco ainda se encerra de maneira ridícula, quando a ranger rosa, de posse de seu Zord voador, derruba uma estátua sobre o carro da ex amiga e solta a frase "você mereceu!", essa é a mente dos defensores da vida na terra! Nesse momento do filme eu quis que o Alfa  mandasse outro meteoro!

Não consigo sentir repulsa por essa vilã
E o que falar da vilã e suas motivações? A introdução da personagem, mostrando que ela era a antiga ranger verde e que se corrompeu é muito bacana, mas nada explica suas motivações e durante o filme só sabemos que ela quer conquistar o universo com o poder do cristal Zeo, mas e onde veio o poder para que ela matasse seus antigos companheiros? Quem deu aquele cetro pra ela? e por que diabos ela como ouro? Disso não somos informados. Eu mesmo queria saber quem foi o esperto que deu um amoeda do poder para alguém chamada Rita Repulsa, tenho minha desconfiança que foram os guardiões de OA, os mesmos que criaram os lanternas verdes (por isso a cor da personagem) , pois se eles deram um anel para um cara chamado Sinestro, porque não para uma Rita Repulsa?! Se bobear o próximo vilão talvez se chame Filho da Póta, para facilitar a identificação do possível traidor! Mas pior que essa brincadeira com os nomes é a atuação de Elizabeth Banks como a vilã, é um show de gritaria e caretas que somadas as fracas motivações do personagem não parecem causar uma ameaça real aos protagonistas, nem mesmo quando ela "mata" um deles, fatos que se equiparam em desastre apenas ao design e efeitos especiais dos Zords e Megazord, que não justificam o orçamento de cem milhões de Doletas para a produção desse filme.

Aproveitando a citação do Megazord, a cena de batalha do robô gigante, que é um clássico dentre as séries super sentai, serve para comprovar a inversão de valores que o filme vem trazendo durante suas duas horas. Depois de a Ranger Rosa mandar o nude da colega, do amigo de Jason drogar um touro, de Billy fazer bulling reverso com o valentão da escola e Trini deixar sua mãe falando sozinha; nossos heróis saem da pedreira, que estava sendo invadida por uma legião de monstros de massa e vão para o meio da cidade na procura da vilã, causando destruição por todo lado, no pior estilo "homem de Aço"! (não seria mais correto levar os monstros justamente para pedreira?) onde as consequências da batalha não são mostradas (eram dois robôs gigantes lutando no centro da cidade, lógico que morreu gente) e ao final, ficamos apenas com o ponto de vista dos protagonistas, olhando de cima a população que os aplaude, mesmo depois que sua pequena cidade foi reduzida a escombros.

Bryan Cranston feito de cristais azuis. Ironia?
Pois bem, sei que fui muito duro com um filme baseado em uma série para criança de até dez anos, mas quem se propõem a dar ares sombrios e problemas pessoais mais sérios a uma trama, tem que conseguir que essa ideia se mantenha linear durante o filme todo e não vá deixando de ser importante como decorrer da história, assim como o farol moral que deveria partir dos protagonistas fique claro e não escondido em meio a desculpas de que "todo mundo posta fotos nua na internet". Espero que a possível sequência, que fica em aberto com o gancho que temos na cena pós-créditos, onde mais uma vez homenageando John Hughes, dessa vez com uma sequência que lembra "Vivendo a vida adoidado", temos um professor entediado fazendo a chamada e perguntando por Tommy Oliver ( O ranger verde da série clássica).

Então é isso! Baseado na aclamada série dos anos noventa, "Power Rangers" deu seu passo inicial, mesmo que tropego, para a crianção de uma franquia cinematográfica, se revelando ao final como um tufão com grandes problemas de design, motivação e coerência de duas horas, iniciado pelo pequeno bater de asas de um curta de 14 min e que para mim, pelo menos, foi um desastre.


Alpha, pode mandar o meteoro!!


                                              O famoso CURTA

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