segunda-feira, 24 de julho de 2017

KONG -A ilha da Caveira (2017) ou fuzilando um clássico em uma ilha sinistra



"O Loki, o Nick Fury e a Capitã Marvel entram em um navio junto com o Fred Flintstone para viajar para uma ilha onde mora um gorila Gigante...". Poderia ser o início de uma piada ruim, mas é a base do filme "KONG – A ilha da Caveira", escrito por Dan Gilroy, Derek Conoly e Max Borenstein; responsáveis, respectivamente por obras da magnitude de "Gigantes de Aço (2011)", "Monster Trucks (2016)" e "Godzilla (2014)", que insatisfeitos com suas colaborações solo, uniram forças para tentar levar a óbito uma franquia nascida em 1933.

O ano é 1973 e as forças armadas americanas estão começando a se retirar do Vietnam, em meio ao tumulto, Bill Randa (John Goodman), responsável pela organização Monarch, após prometer a aquisição de riquezas minerais que podem cair em mãos russas, recebe recursos do governo dos EUA para se dirigir a uma misteriosa ilha no pacifico. Temendo por sua segurança e dos cientista sob sua responsabilidade, Randa também solicita escolta militar e recebe proteção da equipe comandada pelo Coronel Packard (Jackson), que os leva até a ilha juntamente com a fotógrafa Manson Weaver (Brie Larson) e o especialista em sobrevivência James Conrad (Tom Hiddleston). No entanto, o verdadeiro interesse de Randa nada tem a ver com dinheiro, mas em mostrar ao mundo que monstros existem e que nós, humanos, somos apenas convidados ignorados em um mundo mais feroz que imaginamos e isso se revela quando o grupo pisa na nada amistosa ilha da caveira, o lugar de fotografia mais bela do mundo, mas que rivaliza em roteiro mais Trash com o King Kong do Peter Jackson.


O filme é bem Ruinzinho! Não chega a ser um Transformers ou algo do gênero, mas se esforça bastante. Para se ter uma ideia, a produção conta com duas cenas Gigantescas de ação, a primeira quando o grupo de cientistas chega na ilha e se depara com o King Kong e a segunda no desfecho do filme, que duram mais de vinte minutos cada, em uma história de duas horas;ou seja, são intermináveis 33% do filme resumidos a explosões, gritos e mortes, algo que certamente deixou Michael Bay orgulhoso, mas que tira do espectador a capacidade de se importar com os personagens da trama, que diga-se de passagem são muitos e muito mal aproveitados.

Somando-se as intermináveis cenas de ação, que transparecem uma necessidade de manter a história sempre em um nível de adrenalina e tensão máximo, o roteiro ainda deixa a sensação de que tudo que acontece poderia ser resolvido sentando, conversando e buscando informações de forma racional sem arriscar a vida das pessoas envolvidas. Vemos isso quando analisamos as decisões da equipe, que resolve atravessar uma tempestade para chegar a uma ilha desconhecida e cria pontos de encontro sem nem mesmo fazer um reconhecimento do terreno , o que era fácil, pois estavam de helicópteros!!! Essa dificuldade de raciocínio só se mostra maior, quando, ao serem atacados por um Gorila do tamanho de um prédio, resolvem revidar, ao invés de reagrupar e se retirar de um local pouco convencional, por assim dizer, em uma sequência de erros que nos faz entender porque os EUA perderam a guerra do Vietnã para meia dúzia de fazendeiros.

Além disso, o filme ainda sinaliza que toda pessoa com poder sobre uma organização é um sociopata irresponsável em potencial. Tanto Randa, que é vivido por John Goodman, quanto Packard, interpretado por Samuel L. Jackson, são dois malucos sem precedentes que qualquer pessoal com mais de dois neurônios não seguiria após cinco minutos de conversa, com a vantagem de que o personagem de Jackson, tem a desculpa de ser um militar que vê na guerra seu único motivo de estar vivo, enquanto o de Randa, que confessa ser o único sobrevivente de um navio atacado por um monstro quando jovem, um idiota que quer apenas provar ao mundo que não era maluco e que para tanto se mostra um maluco.

Quem tem a melhor levantada de sobrancelha?
O filme ainda conta com o maior desperdício de talento da história do cinema, colocando atores do nível de Tom Hiddleston e Brie Larson, sem contar com Toby Kebbell e os já comentados Goodman e Jackson, para interpretarem personagens unidimensionais e esquecíveis. Toby Kebbell, que protagonizou meu episódio favorito de "Black Mirror", segue seu vacilante destino após o tenebroso Quarteto Fantástico (2015) fazendo o papel de um piloto que acreditamos ter relevância até o momento que um lagarto gigante vomita seu esqueleto (sim é isso!), já Hiddleston e Larson, fazem o papel dos piores profissionais em suas áreas, ele o de um rastreador e especialista em sobrevivência, que não consegue salvar quase ninguém que está sob sua proteção e ela uma fotógrafa premiada que vai em uma ilha selvagem, cheia de monstros, encontra caveiras gigantes, dinossauros, entre outros animais misteriosos e se preocupa mais em tirar foto da tripulação do navio, sem contar que está sempre com uma cara de pasma e com a sobrancelha levantada no pior estilo Sandra Helena da novela "Pega-Pega".

Mas não se desespere ó leitor, o filme tem coisas boas, como a trilha sonora e a fotografia. A trilha sonora, como um filme que se passa nos anos setenta é recheada de rock clássico contendo "Paranoid" do Black Sabbath, "Bad moon Rise" do Creedence e até "Brother" do nosso grande Jorge Ben, em momentos bem oportunos do filme e que dão sentido as cenas que estão acontecendo ou situações que estão por vir, o que é complementado pela fotografia maravilhosa e palhetas de cores quentes que dão o ar tropical e fantástico da produção, mas que, infelizmente é um tanto comprometida pelo vício do diretor em repetir a exaustão em mostrar o pôr do sol na terrível ilha ( que faz parecer que a equipe passou meses no lugar ao invés de três dias) e o recorrente uso do recurso da Câmera lenta, proporcionando até cenas de humor, onde se esperava tensão, com destaque para o close em Jackson encarando o Kong e os soldados passando correndo pegando fogo e o personagem de Hiddleston cortando os mini pterodáctilos com uma espada.

Por do sol


Mas se você passou a semana toda forçando seu cérebro no serviço e quer só deitar no sofá e assistir monstros gigantes se digladiando, explosões arrasadoras, muitas mortes e uma fotografia linda com uma trilha sonora de respeito, nada tema, clique no play e se delicie com essa produção de cento e oitenta e cinco milhões de Dólares e dois salgados e um refri de roteiro e fique tranquilo, apesar de não honrar o nome de uma franquia de mais de oitenta anos, a produção não consegue ser pior (ou mais chato) que o tenebroso filme de Peter Jackson de 2005.

Pra fechar, achei bacana a decisão do roteiro em deixar Kong na ilha ao invés de leva-lo acorrentado para os EUA, até porque Kong estava na ilha desde antes da segunda guerra e Macaco velho não bota a mão em cumbuca (Pá-bum-tss), mas me entristeceu saber que esse filme terá uma sequência em 2019, onde o rei dos Kong enfrentará ninguém mais, ninguém menos que Godzilla e que eu terei de ir ao cinema pois meu filho é o fã mirim numero um do monstro japonês....pois que comece a preparação para o roteiro de Dan Gilroy, Derek Conoly e Max Borenstein e que Deus nos ajude!



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