quarta-feira, 26 de julho de 2017

POWER RANGERS (2017) e que venha o meteoro !



"O bater de asas de uma borboleta pode influenciar o curso natural das coisas e criar um tufão do outro lado do mundo." Essa frase, que tenta definir o "efeito borboleta", parte integrante da teoria do Caos, foi utilizada de maneira conceitual inúmeras vezes na cultura pop para dar movimento à histórias onde um acontecimento pequeno estimula uma série de eventos que culminam, geralmente, em uma grande catástrofe. No entanto, jamais uma produção havia sido resultado desse efeito até Março desse ano, quando, com a influência de um curta que dava ares sombrios a uma franquia televisiva voltada para crianças, a Lions Gate trazia para o cinema "POWER RAGERS", o reeboot cinematográfico da aclamada série dos anos noventa que apresentou para uma geração a cara americanizada do universo dos super sentais japoneses.

"Power Rangers" reconta o início da história de cinco adolescentes (Jason, Billy, Zack, Trini e Kimberly) que encontram as moedas do poder e com a orientação do extraterrestre Zordon, se tornam os defensores da terra contra os malignos planos de dominação de Rita Repulsa.

OK, eu sei que a primeira coisa que passou pela sua cabeça é: "Por que esse tiozão está falando de Power Rangers?" E essa é uma pergunta muito justa, ao se imaginar que o público alvo da produção, não diferente da antiga série, são as crianças e pré adolescentes. No entanto, a curiosidade para saber como esse filme, que brotou da ideia de um curta feito para a internet e que incluía mortes e traições ao colorido cotidiano da molecada residente da Alameda dos Anjos, seria executado foi o que me fez gastar duas hora da minha vida e que me fez escrever esse texto.

Para começar, vamos falar das coisas boas que o filme referencia, iniciando pelo clássico do diretor John Hughes, o "Club dos Cinco". Assistindo os primeiros vinte minutos não podemos ignorar a influência do filme de 1985, que mostra a amizade de cinco jovens problemáticos (também três rapazes e duas moças) que surge após o encontro na detenção da escola e esse artifício é bem utilizado para explicar como pessoas tão diferentes acabam mais do que se conhecendo, como dando oportunidade de quem anteriormente ignoravam entrarem em suas vidas, com destaque para o companheirismo que surge entre Jason e Billy. O personagem do Power Ranger vermelho mesmo, vive uma cena que é praticamente um control C Control V do filme de Hughes, quando tem um diálogo com o pai no estacionamento da escola onde fica claro seu conflito pessoal; Soma-se a isso, que ele , tal qual o personagem de Emilio Steves em "Club dos cinco" também é um esportista frustrado e que se sente oprimido pela expectativa da família.
Outra referência que o filme me trouxe foi o filme "Poder sem limites" do diretor Josh Trank, onde amigos entram em contato com uma descoberta misteriosa e desenvolvem poderes telecinéticos em uma trama que acaba revelando quem realmente é quem, o que me parece claro ao mostrar que a vilã do filme foi uma ex-integrante dos Power Rangers corrompida pelo poder que vislumbrou. Isso ainda se soma ao já mencionado curta, que é referenciado no prólogo da história, que se passa na era dos dinossauros e onde vemos as consequências da batalha da antiga equipe comandada por Zordon e a destruição causada por Rita.

Uma turminha do barulho
No entanto, todas essas coisas boas e referências estão reunidas na primeira meia hora de filme e quase desaparecem da mente do espectador a partir do momento em que o grupo se encontra na pedreira, onde descobre as "moedas do poder" e começam sua jornada para transformarem-se nos defensores da vida na terra. Depois desse evento, o filme muda de tom e começa a se aproximar da ideia da série original, proporcionando cenas e diálogos capazes de constranger até mesmo o público alvo da produção televisiva clássica. Começando pela grande barriga do filme, que é a dificuldade dos protagonistas "morfarem" e que se estende por mais de vinte minutos da trama em um lenga lenga que não agrega nada a história; essa dificuldade se revela ainda o ponto mais decepcionante de todo o filme, pois só vemos os personagens vestidos de power rangers quando faltam apenas vinte e seis minutos para a história se encerrar, ou seja, em setenta e cinco por cento de filme não temos a presença dos personagens que dão nome ao filme.

A decisão de apresentar a trama com a mínima presença dos super-heróis, remete a uma história de origem que foca mais na pessoa do que em seu alter ego, seguindo a fórmula de sucesso do primeiro filme do Homem-Aranha, de 2002; mas nem mesmo isso é aprofundado, pois temos apenas menções aos problemas dos protagonistas, que se apresentam na forma das constantes brigas de Jason com o pai, que não são explicadas, pois apenas somos informados que ele era o capitão do time de futebol americano da escola e que machucou a perna em algum acidente (que não é mencionado) e se transformou em um frustrado rebelde mimado, ou o fato de Billy estar no espectro autista e ter perdido o pai recentemente, também ao fato de Zack ser um ferrado que mora em um acampamento de trailers e cuidar da mãe doente, ou de Trini não conversar com os pais porque (aparentemente pelo diálogo que "os cinco malandros tem em volta do fogueira") ela é lésbica. No entanto, nenhum arco fez menos sentido para a história do que o de Kimberly, a ranger rosa.



Kimberly, foi mandada para a detenção por um fato terrível e que se revela como o principal motivo dela não conseguir morfar (sempre isso!), ela roubou um nude de uma amiga, que havia ficado com seu ex-namorado e enviou ao mesmo questionando se era aquele tipo de garota que ele queria apresentar para seus pais! A foto se espalhou pela escola (pelo menos parece ter sido isso) e ela acabou na detenção, sem contar que antes disso ela ainda bateu no EX... Esse problema poderia ser melhor resolvido, se a personagem, durante a história e pelo seu passado, se sentisse tentada a se debandar para o lado da vilã e assim conseguisse se redimir se sacrificando ao final ou dando um exemplo de redenção, mas não, quem a vilã tenta persuadir é a ranger amarela (porque é gay!), enquanto isso, ainda vemos o líder da equipe (Jason) dizer a nefasta postadora de nudes alheios que muita coisa circula pela internet e para ela não ficar preocupada, COMO ASSIM?? ISSO É CRIME CARA!! o arco ainda se encerra de maneira ridícula, quando a ranger rosa, de posse de seu Zord voador, derruba uma estátua sobre o carro da ex amiga e solta a frase "você mereceu!", essa é a mente dos defensores da vida na terra! Nesse momento do filme eu quis que o Alfa  mandasse outro meteoro!

Não consigo sentir repulsa por essa vilã
E o que falar da vilã e suas motivações? A introdução da personagem, mostrando que ela era a antiga ranger verde e que se corrompeu é muito bacana, mas nada explica suas motivações e durante o filme só sabemos que ela quer conquistar o universo com o poder do cristal Zeo, mas e onde veio o poder para que ela matasse seus antigos companheiros? Quem deu aquele cetro pra ela? e por que diabos ela como ouro? Disso não somos informados. Eu mesmo queria saber quem foi o esperto que deu um amoeda do poder para alguém chamada Rita Repulsa, tenho minha desconfiança que foram os guardiões de OA, os mesmos que criaram os lanternas verdes (por isso a cor da personagem) , pois se eles deram um anel para um cara chamado Sinestro, porque não para uma Rita Repulsa?! Se bobear o próximo vilão talvez se chame Filho da Póta, para facilitar a identificação do possível traidor! Mas pior que essa brincadeira com os nomes é a atuação de Elizabeth Banks como a vilã, é um show de gritaria e caretas que somadas as fracas motivações do personagem não parecem causar uma ameaça real aos protagonistas, nem mesmo quando ela "mata" um deles, fatos que se equiparam em desastre apenas ao design e efeitos especiais dos Zords e Megazord, que não justificam o orçamento de cem milhões de Doletas para a produção desse filme.

Aproveitando a citação do Megazord, a cena de batalha do robô gigante, que é um clássico dentre as séries super sentai, serve para comprovar a inversão de valores que o filme vem trazendo durante suas duas horas. Depois de a Ranger Rosa mandar o nude da colega, do amigo de Jason drogar um touro, de Billy fazer bulling reverso com o valentão da escola e Trini deixar sua mãe falando sozinha; nossos heróis saem da pedreira, que estava sendo invadida por uma legião de monstros de massa e vão para o meio da cidade na procura da vilã, causando destruição por todo lado, no pior estilo "homem de Aço"! (não seria mais correto levar os monstros justamente para pedreira?) onde as consequências da batalha não são mostradas (eram dois robôs gigantes lutando no centro da cidade, lógico que morreu gente) e ao final, ficamos apenas com o ponto de vista dos protagonistas, olhando de cima a população que os aplaude, mesmo depois que sua pequena cidade foi reduzida a escombros.

Bryan Cranston feito de cristais azuis. Ironia?
Pois bem, sei que fui muito duro com um filme baseado em uma série para criança de até dez anos, mas quem se propõem a dar ares sombrios e problemas pessoais mais sérios a uma trama, tem que conseguir que essa ideia se mantenha linear durante o filme todo e não vá deixando de ser importante como decorrer da história, assim como o farol moral que deveria partir dos protagonistas fique claro e não escondido em meio a desculpas de que "todo mundo posta fotos nua na internet". Espero que a possível sequência, que fica em aberto com o gancho que temos na cena pós-créditos, onde mais uma vez homenageando John Hughes, dessa vez com uma sequência que lembra "Vivendo a vida adoidado", temos um professor entediado fazendo a chamada e perguntando por Tommy Oliver ( O ranger verde da série clássica).

Então é isso! Baseado na aclamada série dos anos noventa, "Power Rangers" deu seu passo inicial, mesmo que tropego, para a crianção de uma franquia cinematográfica, se revelando ao final como um tufão com grandes problemas de design, motivação e coerência de duas horas, iniciado pelo pequeno bater de asas de um curta de 14 min e que para mim, pelo menos, foi um desastre.


Alpha, pode mandar o meteoro!!


                                              O famoso CURTA

segunda-feira, 24 de julho de 2017

KONG -A ilha da Caveira (2017) ou fuzilando um clássico em uma ilha sinistra



"O Loki, o Nick Fury e a Capitã Marvel entram em um navio junto com o Fred Flintstone para viajar para uma ilha onde mora um gorila Gigante...". Poderia ser o início de uma piada ruim, mas é a base do filme "KONG – A ilha da Caveira", escrito por Dan Gilroy, Derek Conoly e Max Borenstein; responsáveis, respectivamente por obras da magnitude de "Gigantes de Aço (2011)", "Monster Trucks (2016)" e "Godzilla (2014)", que insatisfeitos com suas colaborações solo, uniram forças para tentar levar a óbito uma franquia nascida em 1933.

O ano é 1973 e as forças armadas americanas estão começando a se retirar do Vietnam, em meio ao tumulto, Bill Randa (John Goodman), responsável pela organização Monarch, após prometer a aquisição de riquezas minerais que podem cair em mãos russas, recebe recursos do governo dos EUA para se dirigir a uma misteriosa ilha no pacifico. Temendo por sua segurança e dos cientista sob sua responsabilidade, Randa também solicita escolta militar e recebe proteção da equipe comandada pelo Coronel Packard (Jackson), que os leva até a ilha juntamente com a fotógrafa Manson Weaver (Brie Larson) e o especialista em sobrevivência James Conrad (Tom Hiddleston). No entanto, o verdadeiro interesse de Randa nada tem a ver com dinheiro, mas em mostrar ao mundo que monstros existem e que nós, humanos, somos apenas convidados ignorados em um mundo mais feroz que imaginamos e isso se revela quando o grupo pisa na nada amistosa ilha da caveira, o lugar de fotografia mais bela do mundo, mas que rivaliza em roteiro mais Trash com o King Kong do Peter Jackson.


O filme é bem Ruinzinho! Não chega a ser um Transformers ou algo do gênero, mas se esforça bastante. Para se ter uma ideia, a produção conta com duas cenas Gigantescas de ação, a primeira quando o grupo de cientistas chega na ilha e se depara com o King Kong e a segunda no desfecho do filme, que duram mais de vinte minutos cada, em uma história de duas horas;ou seja, são intermináveis 33% do filme resumidos a explosões, gritos e mortes, algo que certamente deixou Michael Bay orgulhoso, mas que tira do espectador a capacidade de se importar com os personagens da trama, que diga-se de passagem são muitos e muito mal aproveitados.

Somando-se as intermináveis cenas de ação, que transparecem uma necessidade de manter a história sempre em um nível de adrenalina e tensão máximo, o roteiro ainda deixa a sensação de que tudo que acontece poderia ser resolvido sentando, conversando e buscando informações de forma racional sem arriscar a vida das pessoas envolvidas. Vemos isso quando analisamos as decisões da equipe, que resolve atravessar uma tempestade para chegar a uma ilha desconhecida e cria pontos de encontro sem nem mesmo fazer um reconhecimento do terreno , o que era fácil, pois estavam de helicópteros!!! Essa dificuldade de raciocínio só se mostra maior, quando, ao serem atacados por um Gorila do tamanho de um prédio, resolvem revidar, ao invés de reagrupar e se retirar de um local pouco convencional, por assim dizer, em uma sequência de erros que nos faz entender porque os EUA perderam a guerra do Vietnã para meia dúzia de fazendeiros.

Além disso, o filme ainda sinaliza que toda pessoa com poder sobre uma organização é um sociopata irresponsável em potencial. Tanto Randa, que é vivido por John Goodman, quanto Packard, interpretado por Samuel L. Jackson, são dois malucos sem precedentes que qualquer pessoal com mais de dois neurônios não seguiria após cinco minutos de conversa, com a vantagem de que o personagem de Jackson, tem a desculpa de ser um militar que vê na guerra seu único motivo de estar vivo, enquanto o de Randa, que confessa ser o único sobrevivente de um navio atacado por um monstro quando jovem, um idiota que quer apenas provar ao mundo que não era maluco e que para tanto se mostra um maluco.

Quem tem a melhor levantada de sobrancelha?
O filme ainda conta com o maior desperdício de talento da história do cinema, colocando atores do nível de Tom Hiddleston e Brie Larson, sem contar com Toby Kebbell e os já comentados Goodman e Jackson, para interpretarem personagens unidimensionais e esquecíveis. Toby Kebbell, que protagonizou meu episódio favorito de "Black Mirror", segue seu vacilante destino após o tenebroso Quarteto Fantástico (2015) fazendo o papel de um piloto que acreditamos ter relevância até o momento que um lagarto gigante vomita seu esqueleto (sim é isso!), já Hiddleston e Larson, fazem o papel dos piores profissionais em suas áreas, ele o de um rastreador e especialista em sobrevivência, que não consegue salvar quase ninguém que está sob sua proteção e ela uma fotógrafa premiada que vai em uma ilha selvagem, cheia de monstros, encontra caveiras gigantes, dinossauros, entre outros animais misteriosos e se preocupa mais em tirar foto da tripulação do navio, sem contar que está sempre com uma cara de pasma e com a sobrancelha levantada no pior estilo Sandra Helena da novela "Pega-Pega".

Mas não se desespere ó leitor, o filme tem coisas boas, como a trilha sonora e a fotografia. A trilha sonora, como um filme que se passa nos anos setenta é recheada de rock clássico contendo "Paranoid" do Black Sabbath, "Bad moon Rise" do Creedence e até "Brother" do nosso grande Jorge Ben, em momentos bem oportunos do filme e que dão sentido as cenas que estão acontecendo ou situações que estão por vir, o que é complementado pela fotografia maravilhosa e palhetas de cores quentes que dão o ar tropical e fantástico da produção, mas que, infelizmente é um tanto comprometida pelo vício do diretor em repetir a exaustão em mostrar o pôr do sol na terrível ilha ( que faz parecer que a equipe passou meses no lugar ao invés de três dias) e o recorrente uso do recurso da Câmera lenta, proporcionando até cenas de humor, onde se esperava tensão, com destaque para o close em Jackson encarando o Kong e os soldados passando correndo pegando fogo e o personagem de Hiddleston cortando os mini pterodáctilos com uma espada.

Por do sol


Mas se você passou a semana toda forçando seu cérebro no serviço e quer só deitar no sofá e assistir monstros gigantes se digladiando, explosões arrasadoras, muitas mortes e uma fotografia linda com uma trilha sonora de respeito, nada tema, clique no play e se delicie com essa produção de cento e oitenta e cinco milhões de Dólares e dois salgados e um refri de roteiro e fique tranquilo, apesar de não honrar o nome de uma franquia de mais de oitenta anos, a produção não consegue ser pior (ou mais chato) que o tenebroso filme de Peter Jackson de 2005.

Pra fechar, achei bacana a decisão do roteiro em deixar Kong na ilha ao invés de leva-lo acorrentado para os EUA, até porque Kong estava na ilha desde antes da segunda guerra e Macaco velho não bota a mão em cumbuca (Pá-bum-tss), mas me entristeceu saber que esse filme terá uma sequência em 2019, onde o rei dos Kong enfrentará ninguém mais, ninguém menos que Godzilla e que eu terei de ir ao cinema pois meu filho é o fã mirim numero um do monstro japonês....pois que comece a preparação para o roteiro de Dan Gilroy, Derek Conoly e Max Borenstein e que Deus nos ajude!



terça-feira, 18 de julho de 2017

FARGO - A série (3° temporada)


Esse post é baseado em uma história real.
Os eventos ocorreram em 2010 em Minnesota.
A pedido dos sobreviventes os nomes foram alterados.

Por respeito aos mortos o restante foi retratado exatamente como ocorreu.




Como já disse em posts anteriores, estou saturado de filmes de Super-heróis. Tanto, que mesmo o novo filme do Homem-aranha, que estava aguardando para ver se a Marvel dava um novo frescor à franquia, após os dois meia-bocas "espetacular Homem-aranha", não consegui disposição para ir assistir. Porém, nenhuma frase define melhor a série da qual vou falar hoje, do que a proferida em um filme de Super-herói (ou anti-herói), no caso "Deadpool" de 2016, onde o protagonista, entre uma piada e um tiro, fala que: "A vida é um eterno descarrilhamento intercalada por alguns momentos felizes."

Parece brega (e é!) mas é impossível não pensar nessa frase, ao assistir à nova temporada da brilhante série "FARGO" adaptada para TV e escrita por Noah Hawley, baseada no filme homônimo dos irmão Coen e que depois de mais de um ano e meio de hiato voltou com tudo em uma terceira temporada que entrega um mundo cheio de caos brindado com pequenos momentos de alívio em uma produção que, longe do subtítulo brasileiro para o filme original, onde se lia "uma comédia de erros", se sobre sai com a qualidade de um drama de acertos.

Emmit & Ray
Nessa temporada (que dizem ser a última) voltamos para o gelado extremo norte americano, onde somos apresentados aos irmãos Emmit e Ray Stussy (ambos vividos por Ewan Mcgregor), o primeiro um rico empresário do ramo dos estacionamentos e o segundo, mais novo, um fracassado agente da condicional. Os irmãos Stussy possuem uma rixa devido a uma coleção de selos vintage, os quais seu pai deixou de herança para ambos, mas que o mais novo abriu mão em troca do carro do mais velho, que assim fundamentou sua fortuna em cima de um golpe. Esse amargor de ser enganado jamais abandonou a alma de Ray, assim como a ganância de Emmit nunca foi totalmente saciada, então, anos depois e após de receber um não, ao pedir o último selo para si, no dia de aniversário de 25 anos de casamento do primogênito dos Stussy, e sair da mansão de seu irmão, juntamente com sua namorada Nikki (Mary Elizabeth Winstead) humilhado, Ray resolve contratar um de seus clientes para roubar seu proprio irmão e pegar o que é seu por direito. No mesmo dia, Emmit recebe a visita do misterioso V.M Varga (David Thewlis), "representante" da empresa que lhe tinha emprestado dinheiro um ano antes para expansão, sem pedir nenhuma garantia e esse se revela um investidor, não tão ortodoxo, por assim dizer. A partir desse dia, uma onda de violência começará a dar tons de vermelho à branca neve de minnesota, forçando a chefe de polícia local, Glória Burgle (Carrie Coon) a sair de sua zona de conforto de policial do interior e encarar todo mal e destruição que a ganância e o egoísmo podem causar por onde passam.

Cara! Que temporada fantástica!! Noah Hawley se superou de novo trazendo para TV toda acescência dos filmes dos irmãos Coen, com sua violência, humor, solidão e impotência diante de um mundo abarrotado de burocracia e decisões idiotas; tudo maravilhosamente bem aprofundado com o auxilio de personagens carismáticos, uma trama inteligente que vai ganhando velocidade e força a cada episódio e atuações perfeitas da parte de um elenco de primeira linha.

Chefe Glória Burgle & Nikki Swango
No que toca a trama, a série não foge do espirito do longa lançado em 1996, mostrando a decisão de uma policial do interior, nessa temporada interpretada por Carrie Coon, em solucionar um assassinato que serve como ponto de partida para uma série de crimes de proporções e alcance cada vez maiores do que a visão de mundo onde ela habita e que revelam agora, muito além da força de um submundo sempre presente e, nessa temporada extremamente voraz, também os métodos escusos utilizados para o acumulo de riqueza e poder, assim como toda impotência causada pela burocracia do cotidiano e preguiça de quem só quer receber seu salário e ir para casa sem se incomodar com seu dever. Somando-se a isso a série ainda nos mostra o dano que a necessidade de se impor pode causar em todas as relações, em especial na protagonizada pelos irmãos Stussy, que é o mote para tudo de errado que vai acontecendo durante a temporada em uma sequência de erros de atitudes e comunicação que fazem o espectador ir da esperança a aflição de uma cena para outra.




Essa sequência de erros é muito bem orquestrada por Hawley e interpretada de maneira primorosa por Ewan Mcgregor, que faz os irmãos em conflito. McGregor está fantástico, dando nuances de personalidades distintas e completamente equivocadas em suas maneiras de agir, conseguindo nos convencer tranquilamente de que se tratam de pessoas totalmente diferentes embora a aparência; fato que se confirma quando o irmão mais novo se passa pelo outro e imita seus trejeitos e confiança para aplicar um golpe. Outra atuação que chama a atenção é a de Carrie Coon, que vive a policial Glória Burgle e que representa além da justiça em atuação, também a dificuldade de cumprir seu dever meio a um mundo de pessoas que não se importam ou buscam o caminho mais curto, sua história é sofrida e suas cenas tensas, tanto devido a indiferença ou desprezo que ela sofre no pequeno mundo onde vive, pois perdeu seu marido para um homem, cria um filho sozinha e está sendo destituída do cargo de chefe de polícia, como pelo fato de ter que investigar sem nenhum crédito uma série de crimes que apenas sua dedução dos fatos mostra como interligados e que vão se revelando maiores que ela imagina; Glória é tão apequenada frente ao mundo onde vive, que nem mesmo os equipamentos eletrônico parecem notar sua presença e suas sequências lutando para ser reconhecida por um aporta automática ou equipamentos sensíveis a presença dão o alivio cômico na medida certa a um personagem que tem o mundo em suas costas. Mas o personagem que rouba a cena, para mim, é o interpretado por Mary Elizabeth Winstead, que é a namorada de Ray Stussy, Nikki Swango, uma vigarista fã de carteado e que ao logo da temporada se revela muito mais do que um rostinho bonito, como uma estrategista digna de ocupar o trono do grande chefão e que proporciona cenas de ação fantásticas ao lado de um personagem resgatado da primeira temporada em três episódios que deixam muitos filmes desses últimos anos no chinelo.


V.M Varga (ao centro) e seus capangas
Quanto a história, de início achei repetitiva, pois ignorei o fato dela se fundamentar na mitologia da série, que tende a ser ciclica e a comparei com sua primeira temporada, mas no decorrer dos episódios, após conhecer melhor os personagens, a trama e ficar embasbacado pelo roteiro, me apaixonei. Hawley, sem querer ser pretensioso, entrega um retrato sangrento de nosso mundo, com aquele toque de ironia típica dos filmes dos Coen, onde os alvos, além do descrédito de algumas pessoas, a arrogância de outras e a estupidez de muitos, agora são a crença na falácia da liderança e a burocracia que engessa o movimento natural do mundo. Isso fica claro com os diálogos que se repetem durante a temporada onde as pessoas mais dependentes teimam em definir seus chefes ou entes queridos como líderes naturais, quando falando sobre estes para outras pessoas e quando vemos esses "líderes naturais" tomando decisões, o resultado é sempre uma semente para um problema maior; da mesma maneira a burocracia (a qual já me referi dezenas de vezes acima) aparece tanto como arma e esconderijo dos vilões, que transitam em meio a corrupção por brechas do sistema, tão bem estudadas que os tornam invisíveis, como empecilho para a investigação seguir em frente e ao final armadilha para resolver o caso e refletindo a pequenez de todos frente as regras do mundo.

Pois bem! "FARGO" voltou com tudo ! É uma pena que não passe em nossas terras tupiniquins, não sei se pelo fato de suas locações geladas não refletirem o nosso espirito tropical e alguém no FX ache que não vale a pena a transmissão por aqui, ou se não querem que todas as coisas de qualidade sejam vistas na parte de baixo do Equador, o que sei é que essa é uma produção que vale a pena ser procurada e assistida; uma obra fantástica, de roteiro impecável, atuações brilhantes e sequências de cair o queixo, a terceira temporada de "FARGO" consolida a produção como a melhor série dramática de TV da atualidade. Fica apenas o apelo para que Noah Hawley descanse um pouco e pense bem antes de dar um fim definitivo nesse maravilhoso descarrilhamento com espetaculares momentos felizes, sangue e humor no extremo norte americano.


                                  O trailer não faz justiça, mas é o que tem


terça-feira, 11 de julho de 2017

TRIPLO X - REATIVADO (2017) um desabafo



Quinze anos atrás, os X-games se popularizavam, a Mtv ainda ditava regras para a molecada e as tatuagens começava a se tornar parte do estilo das pessoas; nessa época, o som do momento era o Hip-hop e seu maior expoente era o Eminem, o sonho de consumo da gurizada era um playstation 2 e a Sheila Mello saiu nua na edição da Playboy de Janeiro e a Kelly Key na de Dezembro e, no cinema, eram os confusos tempos pós Matrix, onde cada diretor, produtor e roteirista sonhava em acertar no alvo da mesma maneira que os irmãos Wachowski.

Foi do meio desse caos que surgiu um filme que (pelo ponto de vista do estúdio) buscava misturar tudo que alegrava a gurizada, sejam tatuagens, música, esportes radicais, vídeo game, mulheres gostosas, muita ação e a mínima necessidade de pensar. Tudo isso protagonizado por um ator da nova geração, mas com todo aquele jeito de personagem dos anos oitenta. Assim, estreava em Setembro de 2002 "XXX" (triplo xis para os chegados), estrelado por Vin Diesel e Samuel L. Jackson. Um filme de espionagem, que trazia os resquícios de confronto da guerra fria e pretendia ser empolgante, estiloso e modernoso.

No entanto, uma década e meia depois, em dias de sequências, reboots e remakes, eis que do limbo das franquias surge, pelas mãos do diretor D.J Caruso e contando com a volta de Vin diesel, "XXX: Reativado" matando nossa curiosidade sobre, o que diabos aconteceu com o mítico Xander Cage e nos apresentando sua turminha do barulho e mais do obscuro mundo da espionagem "moderna".

Pois bem, em "XXX: Reativado" descobrimos que Xander Cage não foi à óbito como se soube em "XXX 2: estado de emergência" (esqueci que existia esse filme com o Ice Cube) e após um grupo terrorista roubar um item tecnológico apelidado de "Caixa de pandora", que tem a sutil capacidade de derrubar satélites que estão em órbita como se fossem mísseis em lugares onde o portador do item quer, e um desses satélites, supostamente, matar seu amigo e mentor Augustus Gibbons (Samuel L. Jackson), Xander volta a ativa para dar cabo do grupo de vilões e vingar a morte do amigo.


Então tá! O que esperar de um filme lançado nos dias de hoje, mas que é uma sequência de uma produção do inicio do século, que tem inspiração em elementos da guerra fria e exportes radicais, com um gostinho de filme dos anos oitenta e com todos exageros e cores do anos noventa? Pois é!! Garimpei de um lado, cavei do outro e para não dizer que não achei nada, digo que os momentos onde o filme soa como uma comédia (comédia involuntária, mas mesmo assim uma comédia), caso se consiga segurar o constrangimento e continuar encarando a tela da TV, são muito engraçados.


Começando pelo prólogo, onde vemos o personagem de Samuel L. Jackson recrutando mais um gênio para o projeto triplo X e o recruta é ninguém mais ninguém menos que o camisa dez da seleção brasileira de Futebol, Neymar Jr. A cena ganha ares de comédia, não só pelas caras e bocas que o jogador apresenta ao tentar parecer mais sério do que o normal, mas pela apresentação dos personagens e desfecho que a mesma tem.
Sobre a apresentação dos personagens, esse filme copia a horrível apresentação que se vê em "esquadrão suicida", que lista na tela, tudo que o personagem é, suas característica e pretensões, tal qual uma lista de vídeo game e , quando aparece o Neymar, diz que ele "achava que seria recrutado para os vingadores" ( Samuel L. Jackson entende?!) Pra quê? Para nosso capitão, camisa 10 e pegador de atrizes dizer,em tom humilde, que não é herói?! fato que se mostra falso, quando logo a seguir, quando o lugar onde ele estava almoçando com seu recrutador é assaltado, Ney jr nocautear o assaltante chutando um porta guardanapos na cabeça do meliante, o que é seguido por um grito de "Goooolll" da parte de Auguste Gibbons, que deveria ter morrido ali, naquela hora, antes de abrir a boca.

A cena que se segue é uma afronta a todo brasileiro. Segundos depois de vermos Neymar salvar a vida de Gibbons, concontramos Xander Cage pela primeira vez. Ele está escalando uma antena de TV no meio de uma floresta na república Dominicana e salta da antena em direção a floresta tendo apenas suas bermudas, regata, mochila e SKIS em seus pés... Isso mesmo, o desgraçado desce uma montanha na mata de ski, depois pega um skate e corre até chegar em uma área cercada por homens de metralhadora, que parecem ser milicianos ou traficantes e instalar o equipamento da antena em uma TV para que todos possam assistir satisfeitos... BRASIL (1) X ALEMANHA (7) !!! Maldito Xander Cage!!!


Se alguém se mexer eu toco Calipso !
Na sequência, após salvar o dia, pegar uma gostosa e tomar uma cerveja, nosso herói vai para a praça, onde sofre o mesmo teste que no filme de 2002 e descobre que seu recrutador preferido está morto. De posse dessa informação e sem querer o apoio das forças especiais americanas, Xander resolve convocar seu próprio grupo de "elite". São eles: Adele Wolf, uma sniper tão sorridente e tatuada quanto nosso protagonista e que passa mais tempo pedindo para dar um tiro, do que atirando em alguém; Tennyson Torch, um motorista de fuga e dublê que quer bater o recorde de acidentes (e que é o ponto alto da equipe, pois se trata do ator que faz o Cão de caça em GoT e que está muito engraçado) e o jovem "Nicks", que como arma em seu currículo está o fato que já pegou a Lady gaga e tem o dom de transformar qualquer festinha de garagem em uma Rave.. talentos esolhidos a dedo para enfrentar um grupo composto por Donnie Yen (mestre de Kung Fu) ,Tony Jaa (mestre de Muay Thay), Michael Bisping (mestre de MMA) e Deepika Padukone (mestra em ser gata). Seria esse grupo de Xander um grupo de "contra-inteligência"? Só pode ser!

Depois de reunir essa turminha muito louca, xander parte para Londres, para pedir ajuda para o melhor racker do mundo para rastrear o grupo do mal. E como não poderia ser diferente, em um filme de espionagem, o especialista é UMA especialista e "força" nosso herói a satisfazer meia dúzia de ajudantes sedentas de sexo, para poder lhe entregar a informação, o que não faz sentido nenhum, pois depois descobrimos que nenhum desses terroristas manja nada de computação e que poderiam ser facilmente rastreados pela equipe de apoio do governo, transformando toda cena em apenas uma desculpa para mostrar o quanto o protagonista é Bonzão com as mulheres, algo que convence tão pouco, como a pretensão de transformar o insipido Vin diesel em alguém carismático e legal, o fazendo sorrir o tempo todo. Duas péssimas escolhas de roteiro, que só o ator acreditou, tentando colocar em prática ao forçar uma paquera com uma repórter brasileira.


O mar é o mais carismático nessa foto
Papo vai, papo vem, alguns beijos e muito tiro, porrada e bomba depois, descobrimos que os terroristas, na verdade são agentes recrutados para o projeto XXX e que o vilão é um político americano querendo resolver as coisas pelo medo (como poucos!) o cara é eliminado e DO NADA, a responsável pela caçada aos terroristas se mostra uma vilã maligna do mal!! Não sei se dormi minutos antes, mas realmente não entendi porque ela se tornou maléfica... e nem por que toda a equipe do governo fez o mesmo, chegando ao ponto de o avião que levava nossos heróis ao redor do mundo quase cair e os soldados continuarem tentando matar o fantástico Xander Cage, sem medo de partirem para a terra dos pés juntos.


Depois disso, Ratátátá, bum, pow, soc, iiiáaáá.....!! e a ação acaba e sem nenhuma atuação digna, colocando em posição de constrangimento atores de ação do cinema asiático no naipe de Tony Jaa e Donnie Yen e reafirmando a breguisse da franquia. Vemos as duas equipes, que outrora eram rivais e inimigas, agora reunidas como uma família, tendo o majestoso Xander, como seu líder , restando no coração de quem sobreviveu as quase duas horas de cenas aleatórias sem roteiro, o desejo verdadeiro de que as próximas missões de Xander Cage sejam tão secretas, mas tão secretas, que não sejam mais filmadas.

Depois de tudo ainda descobrimos que o personagem do Samuel L. Jackson não morreu, foi tudo parte de um plano para trazer os traidores à luz e reativar Xander Cage, tudo isso em um diálogo que faz tantas menções ao Nick Fury e aos vingadores (com Samy Jackson trajando um sobre tudo de couro, se fingindo de morto, de cabeça raspada e até um óculos com um tapa olho) que só faltou o Vin Diesel gritar "EU SOU GROOT"!! Tenho certeza que a Marvel só não deve ter processado essa produção para não ter seu nome ligado a algo tão horrível.


E assim desperdicei duas horas da minha vida, que senti ainda mais falta, ao assistir "zootopia" logo em seguida e me deparar com um roteiro infinitamente melhor construído, personagens mais profundos e carismáticos, referências bem colocadas e inteligentes, assim como trama envolvente...tudo isso em um filme que deveria ser para crianças... mas isso é outra (e melhor) história, sem tatuagens, sorrisos forçados e , definitivamente, sem os sete a um da Alemanha.