segunda-feira, 21 de novembro de 2016

GALVESTON - O livro de Nic Pizzolatto


Conheci o trabalho e Nic Pizzolatto com a primeira temporada da série "True Detective" e assim como quase todo mundo fiquei impressionado. A produção da HBO trazia, além de um grande elenco, um roteiro interessante e com personagens de extrema profundidade e carisma, o que me fez procurar mais sobre o trabalho do criador daquele universo, que conseguiu misturar com sucesso o clima Noir com o dos weird tales.

No entanto, não encontrei nenhum trabalho de Pizzolatto publicado no Brasil logo após o termino da temporada estrelada por Mattwel McConaughey e Woody Harrelson então segui na expectativa pela temporada seguinte, que contaria uma história diferente e com novos personagens e me satisfiz lendo o livro que inspirou o roteirista a flertar com o místico e o estranho junto a suas histórias de detetive, o clássico "O rei de Amarelo" de de Robert W. Chambers .

Então Junho de 2015 chegou e a segunda temporada de "True Detective" estreou. No entanto, a nova temporada, embora também tivesse um grande elenco, não possuía o mesmo carisma e fracassou em tentar repetir o sucesso da primeira, mas sua estreia serviu como publicidade para que a editora intrínseca lançasse em nosso país um livro de Pizzolatto, que nos entregaria um pouco mais sobre aquele mundo corrupto e cínico, em que transitam em ruas escuras detetives e gângster e, onde a linha que separa o bem do mal é mais fina do que um fio de cabelo, foi assim que chegou em minhas mãos " Galveston".

"Galveston" conta a história de Roy Cady, um assassino da máfia de Nova Orleans, que, após descobrir que está com câncer e depois que seu chefe se torna amante de sua namorada, é vítima de uma armadilha armada por seus próprios companheiros, de onde escapa muito mais devido a seu sangue frio do que pela sua sorte. Na fuga , ele conhece Rocky, uma jovem prostituta e com ela resolve fugir para a cidade de Galveston, um lugar de boas lembranças do passado, onde ele pretende passar seus últimos dias aproveitando o mar e sendo tudo o que não foi, ignorando que o passado ainda o espreita e o seguirá aonde for.

O livro começou me empolgando. Em seus primeiros capítulos ele lembra um pouco a tensão e clima presentes na obra de James Ellroy, "Los Ageles - cidade proibida", onde os homens são violentos e frios e, as mulheres sexys e manipuladoras, a narrativa é rápida e expressa em frases e parágrafos curtos, nos arremessando para dentro da história sem explicação prévia, nos fazendo agarrar à visão do protagonista para aos poucos vislumbrarmos o que está acontecendo naquele mundo que estamos adentrando de maneira tão brusca e isso é bem bacana. Somado a esse clima, temos ainda a descrição de cenas cruas de ação e violência, que te fazem franzir as sobrancelhas e trincar os dentes, principalmente quando o autor detalha as torturas praticadas pelo submundo.



Mas apesar desse início empolgante, o livro se perde em si. Tal qual a segunda temporada da série roteirizada por Pizzolatto, da segunda parte do livro até o final , a história parece entrar em um looping que não leva a nada a não ser destruir todo o clima criado por suas primeiras páginas. O próprio protagonista, que no início é mostrado como um cara durão, que beira ao niilismo, aos poucos vai amolecendo, chegando a constranger o leitor com um capítulo de auto-piedade onde vai procurar uma ex-namorada para tentar relembrar seus bons momentos, mas conseguindo apenas páginas e mais páginas de desprezo e conversa mole que não representam nada para a trama. Por falar em trama, a partir da segunda metade do livro é que percebemos que o autor não possuía uma trama para nos apresentar, apenas uma ideia e a caracterização de alguns personagens bem parecidos com os que ele apresentou na TV, são páginas e mais páginas ambientadas em hotéis na beira de estradas, com seus hospedes solitários e marginais, que pouco, ou nada contribuem no crescimento do protagonista ou da história e que se, pelo menos, fossem alvos de uma chacina , faria sentido com a ideia inicial que parecia surgir nas primeiras páginas, de um thriller de ação e perseguição maquiado de roadtrip, mas que ao invés disso, ao final, lembra mais o roteiro de uma novela da Glória Perez só que (por incrível que pareça) mais açucarado.

"Galveston" foi uma decepção! Um livro que tenta flertar com o submundo, mas tropeça em seus personagens fracos e trama rasa, não consegue manter um ritmo ou apresentar motivos para que nos importemos com os problemas de seus personagens, chegando a nos fazer questionar por que o câncer do protagonista é tão lento. Traz todos os defeitos de roteiro que fizeram a série escrita por Nic Pizzolato ser cancelada da grade da HBO, após a decepção da segunda temporada, sem trazer as qualidades presentes no sucesso da primeira e levam o leitor do nada a lugar nenhum em chatas 235 páginas, surpreendendo quem descobre, assim como eu, que os direitos do livro já foram comprados e que o mesmo deve virar filme muito em breve, para azar da sétima arte, que parece estar com um câncer em sua criatividade e sorte de Pizzolatto que deve lucrar alguns milhõezinhos por mais um roteiro ruim e essa história sim é digna de um Weird Tale.



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