quinta-feira, 20 de outubro de 2016

CAÇA FANTASMAS (2016)



Estava conversando com um colega de trabalho sobre as séries novas que estrearam esse mês e em um determinado momento ele disse que odiava o mais conhecido serviço de streaming disponível no mercado (não vamos fazer propaganda de graça hoje), segui conversando, mas uma dúvida foi plantada na minha cabeça: “Por que alguém odiaria algo voltado para o entretenimento?”, pensei e pensei, mas não encontrei uma resposta adequada, a não ser que as vezes as pessoas são babacas e precisam odiar algo, seja a editora de quadrinhos que rivaliza com a da sua preferência, seja um pintor ou escritor de destaque, ou, o canal de TV aberto que disponibilizou a todos aquela série que na sua cabeça era só sua e assim por diante. O pior é que, infelizmente, esse comportamento faz parte da característica humana, ajudando algumas pessoas a se autoafirmarem, sem que elas percebam que a mesma atitude as impossibilita de se surpreender positivamente com algo que se opuseram antes de conhecer.

Uma produção que é o exemplo máximo dessa intolerância baseada apenas na vontade de ser contra algo, é o filme que ganhou o amargo título de trailer mais odiado do Youtube e que, até hoje, quando eu o menciono, ouço aquela frasezinha, “esse filme é um lixo”, mesmo que após, a mesma pessoa complemente “mas eu nunca assisti!”. Estou falando de “CAÇA FANTASMAS” de 2016, reboot da clássica comédia dos anos oitenta, escrito e dirigido por Paul Feig e estrelado por Melissa McCarthy, Kristen Wiig, Kate McKinnon, Leslie Jones e grande elenco, que estreou nos cinemas brazucas em Julho deste ano e que mantendo a minha tradição, só conseguir ver recentemente, mas que foi uma agradável surpresa, mostrando que, quem busca algo para odiar, principalmente algo que só tem a intenção de divertir (e ganhar dinheiro), tem mais a perder do que a ganhar.

Ecto-1
Caça Fantasmas”, conta a história de um grupo de cientistas que se unem para capturar fantasmas (ou melhor dizendo, manifestações ectoplásmicas), que começam a aparecer na cidade de Nova York. Tais fenômenos se intensificam logo após o livro que duas delas publicaram, onde admitiam a existência de assombrações, voltar a ser vendido, o que acaba por destruir a reputação de uma das autoras (Erin (Kristen Wiig)) na faculdade onde lecionava e a força a um reencontro com sua ex-amiga e co-autora da famigerada publicação, Abby (Melissa McCarthy), que trabalha em uma instituição menos respeitada com sua nova amiga Jilian (Kate McKinnon), as três começam a investigar os fatos na busca de reconhecimento de suas teorias e assim acabam por conhecer Patty (Leslie Jones) uma funcionária do metrô e de grande conhecimento da história da cidade, que vê um fantasma em seu local de trabalho e aos poucos começa a ficar fascinada pelos eventos e acaba se unindo ao grupo. Juntas, essas quatro mulheres descobrirão um terrível plano para quebrar a barreira que separa o nosso mundo, do mundo dos mortos e buscarão superar toda falta de confiança e crédito que recai sobre elas, para assim salvar o dia.

Meu amigo, vou te dizer, achei “Caça Fantasmas” um filme bem legal! Paul Feig é um competente roteirista e diretor e quando foi anunciado que ele era o responsável pelo reboot eu fiquei mais tranquilo, pois algo que eu não poderia engolir seria um caça Fantasmas cheio de explosões e gritaria, como fizeram com “tartarugas Ninja” e sabendo que não é o estilo dele apresentar comédias exageradas e ação forçada, se atendo no estilo parecido com o dos filmes originais, sabia que o que eu veria, embora não fosse revolucionário, não seria pretensioso ou deprimente, qualidade que ainda foi aditivado com o talento para comédia das atrizes que protagonizam a produção e das diversas homenagens que a história faz ao clássico de 1984.



O filme é uma comédia “sessão da tarde”. Não depreciando a produção, mas exaltando aquele tempo onde filmes divertidos passavam a tarde na rede plim-plim e nos prendiam na frente da TV durante um bom tempo, ou seja, é um filme para a família sentar na frente da televisão, com um balde de pipocas e dar boas risadas juntos, sem a intenção de se tornar um clássico ou fazer alguém refletir sobre um assunto sério. Desse modo, as atuações não são e nem precisam ser brilhantes, o que por outro lado não impede de serem engraçadas e caprichadas, começando por Kate McKinnon, que interpreta a engenheira mecânica Jillian, roubando a cena com sua estranha personalidade e aparente indiferença, tudo isso somado a um sorriso meio insano que a acompanha em todos os momentos; outro destaque é o retorno de Kristen Wiig as comédias mais frouxas, relembrando muito seu tempo de Saturday Night Live, assim como Melissa McCarthy e Leslie Jones, que embora não fujam de seus papéis habituais, não decepcionam ou desaparecem frente ao destaque das outras duas. Mas, para mim o maior destaque, além da química que as atrizes têm entre si, é a participação de Chris Hemsworth ( O Thor da Marvel) como o telefonista Kevin, o cara está muito engraçado e bem diferente dos papéis habituais que está acostumado a fazer, sendo a cena onde as protagonistas saem dançando e comemorando, após capturarem seu primeiro fantasma e, Hemsworth entra dançando com Leslie Jones, uma das que me fez rir mais.



Harold Ramis (O Egon de 1984)
O filme também traz diversas referências e homenagens ao original dirigido por Ivan Reitman. A Mais marcante é a presença de um busto do falecido ator Harold Ramis, que, com Dan Aykroyd, foi o roteirista do filme de 1984 e ainda interpretou o personagem Egon e, o mais bacana é que essas homenagens povoam a história do início ao fim, contando com a participação de quase todo elenco do filme original, assim temos Bill Murray como um cético caçador de fraudes sobrenaturais, que paga caro por sua arrogância, Dan Aykroyd, como um taxista que parece saber bem mais sobre fantasmas do que o normal, Ernie Hudson como o tio da personagem da Leslie Jones, Anie Potts, como a recepcionista de um hotel e Sigoumey Weaver como a mentora da personagem de Kate McKinnon, além de menções ao fantasma Geléia e ao monstro de Marshmallow, só faltou o Rick Moranis.

Junto com as homenagens e menções, temos as releituras de algumas cenas e explicações sobre algumas questões que não eram abordadas nos outros filmes, que ficaram bem bacanas. A principal questão da trama, penso eu, é como as personagens se transformam em uma prestadora de serviço, pois no filme original, parece que o plano dos protagonistas é abrir uma empresa desde o princípio, já no novo filme, tudo ocorre de maneira acidental e a ideia surge como interesse científico, que acaba, ao final, se tornando uma fonte de renda quando passa a ser um prestador de serviço para a prefeitura da cidade. O fato de os raios de prótons não poderem se cruzar fica mais claro nessa versão, se explicando que a soma de energia com o cruzamento pode deixar o equipamento instável (ou algo assim). Além disso, temos uma releitura da cena onde as três cientistas filmam o primeiro fantasma, que no filme de 1984 está empilhando livros em uma biblioteca e nesse é o fantasma de uma assassina que morreu encarcerada pelo pai em sua própria casa, as cenas são muito semelhantes, com o fantasma lívido observando os personagens, quando de repente se torna assustador, atirando gosma para todos os lados; Também temos um embate final parecido, com as Caça Fantasmas se defrontando com um monstro gigantesco, onde o buscar mandá-lo de volta através da barreira, me parece mais coerente do que tentar explodi-lo, até porque se ele não está vivo, do que adiantaria?

Por tudo isso, achei “Caça Fantasmas”, de Paul Feig, um divertido filme, que apesar de utilizar o original como base, se sustenta sozinho e não pretende nunca ofuscar ou superar o primeiro, mas que nem por isso, parece ser inferior. Um filme para se divertir, mas que consegue ter aquela dose certa de acidez e ironia, para debochar até mesmo dos haters do youtube que elegeram seu trailer como o mais odiado de todos os tempos e que para o amargor dessa gente, ainda termina com uma cena pós créditos onde a personagem da Leslie Jones, após ouvir uma fita com um áudio gravado em um suposto prédio assombrado questiona “Quem é zuul?” (Eu sei!) indicando uma possível sequência.


Caça Fantasmas é o exemplo de que até mesmo algo que é totalmente diferente do que nós queremos, pode ser muito divertido e surpreendente. Não há a necessidade de procurar defeitos ou levantar bandeiras de ódio contra coisas que não representam a gente, basta não assistir, ou assistir e mudar de ideia. As pessoas estão se tornando extremistas demais, defendendo com unhas e dentes apenas o que lhes agrada por retratar traços de suas personalidades ou a representação de seus aspectos físicos e isso não é certo, pois há e sempre haverá espaço para todos, principalmente nas artes e se você não consegue enxergar isso, talvez seja a hora de cruzar os raios de prótons e banir esse monstro gigante que existe dentro de você para outra dimensão, antes que ele cause danos a você mesmo. Então, relaxe, faça um balde de pipoca, assista Caça Fantasmas e dê uma chance ao novo e a você mesmo.



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