segunda-feira, 5 de setembro de 2016

TERRA PROMETIDA (2016)



Enquanto todos aguardavam a estreia da nova temporada de “NARCOS”, a Netflix disponibilizava dia primeiro de Setembro, data da invasão alemã à Polônia, a série brasileira “Terra Prometida”, produção idealizada por Renato Fagundes e Luís Noronha, que narra histórias da Alemanha nazista através dos olhos dos Judeus e a repercussão da guerra e da imigração europeia no Brasil durante aquele período. 

Desenhos Belli Studio
A série busca dar um olhar mais moderno e menos maniqueísta a um dos períodos mais amargos da nossa história. Apresentando ao expectador uma obra inovadora, que mistura a reprodução de histórias verdadeiras através de animação, com cenas reais da época no melhor estilo documentário, lembrando, por vezes, o premiado “Valsa para Bashir” de Ari Folman, por seguir os passos do diretor israelense, ao humanizar os envolvidos no confronto, em especial os soldados e imigrantes, mostrando o terror e insanidades causadas pela Guerra e ignorância.

Terra prometida” foi transmitido originalmente pela TV cultura em Julho deste ano, chamando a atenção por se tratar de um ponto fora da curva dentre as obras audiovisuais brasileiras, misturando a informação do documentário com a dramatização ilustrada.

O documentário nos traz imagens de documentos históricos como, por exemplo, o telegrama enviado a Albert Einstein, onde o governo brasileiro rejeita o pedido de entrada de uma de suas amigas, e, de vídeos raros da época, onde podemos ver um pouco do espírito da sociedade alemã, desde a entrada no poder no partido nazista, até sua queda em 1945 e a repercussão da guerra em terras brasileiras, desde a simpatia pelo eixo por parte de Getúlio, até a entrada na guerra ao lado dos aliados.


Complementando a parte documental da obra, a série apresenta trechos em animações baseadas em histórias reais de diversos personagens que vivenciaram os fatos ocorridos na segunda guerra, tanto no Brasil, quanto no fronte de batalha. A produção desses desenhos é trabalho da Belli studio de Blumenau, responsável por ilustrar algumas séries da Discovery Kids, como “O peixonauta” e “Meu Amigãozão” e o estilo simples com que as histórias são retratadas remetem tanto a busca por uma verdade mais leve, quanto ao escapismo que tais situações pedem frente a crueldade e tristeza dos fatos ocorridos.

A série é excelente, exorcizando um período sombrio de nossa história e dando voz e rosto a muitas figuras esquecidas. O episódio que trata do ocorrido com os pracinhas logo após o fim da Guerra e o que fala sobre Aracy Guimarães Rosa, que conseguiu vistos para centenas de refugiados elucida quem acreditava que a história brasileira naquele confronto ficava aquém dos filmes de Hollywood e das histórias de nossos avós.

Pracinha ferido voltando da Guerra recebendo medalha
A obra vem coroar o momento cinematográfico brasileiro que parece querer deixar de lado o estilo panfletário de “cine-ditadura” e “cine-favela” e as comédias sem graça que ninguém precisa. Seu roteiro, que avança e recua no tempo para mostrar diversas histórias ocorridas na segunda guerra, foi escrito por Haná Vaisman, Gabriella Mancini e Rossana Maurell, que contaram com a ajuda de historiadores para tornarem a trama mais próxima ainda da realidade. A direção ficou por conta de Paschoal Samora e a produção teve o apoio do fundo setorial do audiovisual via Ancine e BNDES, sendo uma obra conjunta da Conspiração Filmes e Synapse produções.

Terra Prometida” é uma aula de cinema e inovação e, está com seus capítulos para a apreciação na Netflix desde o dia primeiro de Setembro, se você gosta de história, documentários e animação (ou todos) essa é a oportunidade perfeita para assistir algo de valor e conteúdo feito aqui e por artistas brasileiros.


Não perca tempo, são só seis episódios de 25 minutos. Recomendo. 



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