quarta-feira, 14 de setembro de 2016

A BEIRA DA LOUCURA (1994) #Zerocult 4


Imagina um filme com o clima dos contos de Lovecraft, onde tudo gira em torno de um escritor de terror totalmente inspirado em Stephen King, dirigido por um mestre do terror e produzido no meio dos anos noventa, mas com todo espirito dos anos oitenta? Parece estranho demais para ser concebido, não?! Mas existe!! Se trata de "À beira da Loucura" (In the mouth of madness), distribuído em 1994 pela New Line, dirigido pelo Genial John Carpenter e estrelado por Sam Neill, que, em um dia de chuva onde até faltou luz, me trouxe toda aquela sensação que o falecido "cinema em casa" do SBT me trazia quando eu era um guri.

O filme acompanha os passos de John Trent (Sam Neill), um investigador de seguros, que é contatado por uma editora para encontrar um famoso escritor de terror chamado Sutter Cane, que desapareceu um mês atrás, deixando um livro inacabado que já tinha data de lançamento e direitos vendidos para o cinema. Na pista do escritor, John Trent acaba chegando na pequena cidade de "Rob's End" acompanhado de uma funcionária da editora, onde além do escritor, ele encontrará uma verdade tão grande e destruidora que vai abalar pra sempre sua sanidade (uuUUUuuu) .

Que - filme – maluco! Para começar pela escalação de Sam Neill como protagonista, que havia estrelado Jurassic Park, um dos melhores e mais marcantes filmes do início dos anos noventa, onde ele interpretava Alan Grant, que aparecia como um tipo de Indiana Jones da paleontologia em uma atuação memorável, aí nesse filme, que foi lançado apenas um ano após o filme do Spilberg, ele parece que sofreu uma amnésia e age da maneira mais canastrona possível, certo que o roteiro e a direção pedem aquele tipo de atitude, mas seus trejeitos, risos e choros (ainda mais depois que o personagem enlouquece) rivalizam em muito com o Coringa do Jared Leto.


Falando da direção e roteiro, talvez o grande responsável de o filme ter caído no esquecimento, seja o fato (além é claro que nesse mesmo ano estrearam filmes que se tornaram clássicos imediato, como "Pulp Fiction", "O rei Leão", "Forrest Gump", "O corvo", "Entrevista com Vampiro" e "Assassinos por natureza") de que tanto o estilo de como a história é contada, assim como a forma da direção, estarem fora de seu tempo. A direção de John Carpenter, embora boa, mas já não na melhor fase, parece ainda presa aos anos oitenta, trazendo alguns vícios daquela época onde o diretor se destacou com filmes como "Halloween", "Enigma de Outro mundo" e "Eles Vivem" para um tempo onde as pessoas procuravam algo diferente, com argumentos e questões mais profundas e isso fica claro até no uso já tardio de efeitos práticos que tentam repetir a experiência presente nos filmes citados anteriormente do diretor, sendo que isso acaba datando a produção. O roteiro também fica a desejar, parecendo copiar o espírito de alguns dos contos de Stephen King, onde os personagens são envoltos em uma situação muito maior que eles e da qual é impossível sair, mas a forma caricata como esses personagens se mostram, não cria o mesmo laço com que King consegue prender seu leitor, o que transforma uma história que poderia ter um ar de maior tensão e suspense em uma mistura de terror com comédia, mas sem ser muito aterrorizante e nem tão engraçado.



Apesar dos erros, uma coisa que gostei do filme foi o estranhamento que ele consegue passar ao espectador. A história, por ser contada por um louco, é uma maluquice em espiral e conforme vai se encaminhando para o final o clima te deixa meio tonto, no melhor estilo Lovecraftiano, onde eu só achei uma falha mostrarem os monstros, pois se deixassem a narração da acompanhante do protagonista, com o olhar do mesmo mirando a escuridão, acho que imaginação faria um trabalho bem melhor do que aquele bando de monstro de borracha cobertos de óleo, mas isso não estraga por completo o lance da loucura e bizarrice.

Tô doidão
Outra coisa bacana e que também colabora nesse estranhamento é o clima oitentista. As Ruas e becos cobertos de lixo, a umidade da cidade grande, o clima ensolarado e campestre da cidade do interior, tudo isso lembra muito a "sessão da tarde" e "cinema em casa", sem contar que a própria interação dos personagens é total dos anos oitenta, com o protagonista dando em cima da funcionária da editora desde o primeiro minuto que se encontra com a mesma e ela meio que aceitando, a mulher ser a descontrolada que enlouquece de primeiro, sem contar que em um momento de pavor, o protagonista simplesmente mete um soco na cara da mulher para ela desmaiar e ele poder fugir com ela, é muita loucura para uma hora e meia de filme.

Apesar de suas falhas e insanidade, me diverti assistindo "À beira da Loucura". Um filme que trás um pouco da estranheza dos contos de Lovecraft, aliadas as ambientações e terror de um Stephen King e ( por que não?) um pouco das comédias pastelão das tardes de dia de semana. Uma produção interessante, que mesmo estando fora de seu tempo (esse filme deveria ter sido gravado em 1985), ainda trás o último suspiro da genialidade de John Carpenter e só por isso, deixar de assisti-lo seria, para eu que sou fã, atestar minha total insanidade.





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