sexta-feira, 12 de agosto de 2016

ESQUADRÃO SUICIDA (2016) - quando o maior vilão é o roteirista

Quando eu era criança, lembro que na escola, a professora contou uma pequena história que falava o seguinte:
"Era uma vez um menino que viu na TV como Passas eram deliciosas e passou a sonhar em comer passas. Perguntando para sua mãe quando poderia realizar seu sonho, ela respondeu que apenas no natal a família poderia realizar o desejo do menino e como ele era muito bom e obediente esperou até a data indicada; sempre imaginando o sabor, a textura e o aroma do objeto de seu desejo. Então o Natal chegou e sua mãe lhe entregou um pacotinho da tão sonhada iguaria que, sem pensar, o menino colocou na boca, mas logo sua felicidade se transformou em decepção ao perceber que as tão desejadas passas não passavam de uvas secas."
O que a história contada pela minha professora, na terceira série, queria explicar era um conceito que me acompanharia pela vida toda e que só com muita experiência e baixando a expectativa frente a qualquer promessa, não amargaria meus dias, esse conceito se chama Frustração. Conto essa história para tentar explicar como me senti na data de ontem, ao assistir a "Esquadrão Suicida", filme dirigido por David Ayer, estrelado por Will Smith, Margot Robie, Jared Leto, Viola Davis, entre outros, que, depois da decepção com "Batman vs Superman", colocou minhas expectativas acima do céu, me convencendo através de seus trailers que era a possibilidade de redenção da DC/Warner no cinema, apenas para, após assistir ao filme, me fazer lembrar dessa história antiga e ter certeza de que a resposta à ilusão da expectativa é uma realidade amarga.




SINOPSE

O filme começa logo após os eventos ocorridos em "Batman vs Superman", que culminaram na morte do Kriptoniano mais famoso do mundo. Amanda Waller, uma alta funcionária do serviço de defesa norte americano, resolve levar às autoridades o plano de formar uma equipe que possa combater problemas espetaculares do mesmo nível dos resolvidos pelo Super-man, mas de uma forma que não comprometa ou seja vinculado ao governo e dessa forma resolve utilizar bandidos para a execução dessas missões, para que no caso de algo ocorrer de errado, a responsabilidade recaia toda sobre os mesmos.
Assim Waller, recruta o assassino conhecido como Pistoleiro, o ladrão Capitão Bulmerang, o pirocinético chamado de El Diablo, o bandido conhecido como Crocodilo, uma louca apelidada de Arlequina e um bucha de alcunha Amarra, para executar seu plano e para comanda-los em campo, Amanda conta com a liderança de Rick Flag um militar de alta formação, que por sua vez tem como guarda costas a guerreira katana.
Todos bandidos viviam suas deprimentes vidas de presidiários até que "Magia", uma bruxa de 6320 anos presa no corpo da pior arqueóloga do mundo e que foi o primeiro membro convocado pelo projeto presidido por Waller, roubou o artefato onde seu irmão estava preso e o liberta na cidade de Midlletown, na intenção de torna-lo mais forte e em conjunto com este dominar o mundo, forçando a recém formada equipe à ação para dar fim ao problema e salvar a humanidade.

Vou te decepcionar
Queria começar falando que não tenho nada contra a DC comics. Muito pelo contrário, tenho um carinho especial por todos seus personagens e em especial pela família Batman, então fazer outra resenha mostrando, em sua maioria, todo o lado negativo de um filme dos personagens da editora é uma coisa que não me faz feliz, até porque, ninguém se propõem a perder tempo e dinheiro assistindo a um filme, só para apontar defeitos; o que a pessoa quer é que tudo que lhe foi prometido durante meses e meses de publicidade seja verdade e que sua experiência seja maravilhosa, então começo essa crítica pedindo desculpas aos fãs da DC pelo que vou falar de "Esquadrão suicida", mas a Warner mentiu para mim durante um ano e não posso deixar barato.

Lá vai...


O filme é ruim! Queria dizer ao contrário, mas o filme é ruim. "Esquadrão suicida" é mal escrito, mal dirigido, mal editado, mal explorado, brega, piegas, raso, bobo e infantil. E, podemos explicar porque o filme é do jeito que é, falando um pouco sobre o roteiro, ou pelo vício de roteiro que acompanham os filmes da DC/Warner desde "O homem de aço" e que parecem a única alternativa para os escritores responsáveis criarem uma forma da trama andar, sobre os personagens e suas motivações e como a história é apresentada para o inocente que vai no cinema esperando o clima dos trailers.
A coisa mais notória nos filmes da editora é o fato de todos problemas que seus personagens enfrentam partem deles mesmos. sendo assim, em "O homem de aço", os Kriptonianos chegam a terra com a intenção de destruir a raça humana e criar uma colônia, logo após o Super-man entrar em contato com eles para conhecer melhor seu passado; em "Batman vs Superman", os problemas encabeçados por Lex Luthor só crescem depois que o Batman resolve largar tudo e caçar o Kriptoniano, causando sua morte e; assim é em "Esquadrão Suicida", com a intenção de criar o grupo, Amanda Waller utiliza de meios pouco gentis com uma bruxa de 6320 anos, que acaba por se voltar contra ela e buscar destruir o mundo... me parece que essa gente do universo Dc é meio burra e inconsequente.



Sobre os personagens, o filme não consegue coloca-los como vilões e nem ao menos como anti-heróis carismáticos que poderiam ser se fossem melhor aproveitados, nem vou falar muito do grupo em si, mas gostaria de falar de três em especial, Começando por Amanda Waller, cuja atriz foi a pessoa mais elogiada na Comic-com por sua atuação no filme. O plano da idealizadora do grupo é um plano estúpido e que não faz sentido, ainda mais quando vemos o filme se desenrolar. Criar um grupo de vilões para defender os interesses do governo não é uma coisa muito inteligente, principalmente porque a maioria dos vilões que ela apresenta não possui nenhuma habilidade especial e as crises que o planeta passou recentemente envolvem um ataque alienígena de seres ultrapoderosos e o despertar de um monstro capaz de destruir o mundo sozinho; em resposta a isso, Waller recruta um bêbado que atira bumerangues, uma louca que conta piadas, um franco atirador e um cara com cara de jacaré? Ok, tem o Pirocinético, mas ele não quer lutar... Nos quadrinhos, esse mesmo grupo (ou parecido) faz sentido, porque é mandado para resolver problemas com terroristas, gangster e outras ameaças menores ou internacionais, não contra uma entidade milenar incorpórea extra dimensional e mágica, o que mostra que Amanda deve ter batido a cabeça quando pensou em criar o grupo e que não se deu nem o trabalho de ler a ficha de todos os possíveis recrutáveis, pois se assim fosse, não deixaria a disposição de uma pessoa que se teleporta, entra em espelhos e cria raios mortais (A magia ), o ídolo onde seu irmão hiperpoderoso descansava. Ainda bem que não dizem no filme que Amanda Waller trabalha na Inteligência, porque aí seria piada. Mas as perguntas que ficam são: Por que ela não formou um grupo com os heróis, que tinham o mesmo interesse de salvar a humanidade que o Super-man, ao invés de se arriscar com esses vilões meia boca? Até porque no final vemos quela sabe quem são e como encontrar esses heróis. E, se o esquadrão suicida age para não vincular o governo a suas ações, porque eles são acompanhados de militares?

Tio Phil mandando bala
Mas existe alguém muito pior em planos e motivos que Waller, alguém que serviu como âncora para a publicidade do filme e que agora serve de peso para afunda-lo, uma participação especial que foi desagradável a ponto de me sentir envergonhado pelo David Ayer, um cara que é tido como o maior vilão dos quadrinhos, o palhaço do crime, aquele que só quer o caos, aquele que estava além das ideias lúcidas da humanidade, mas que nesse filme é um coitado, megalomaníaco e que não impressiona, causa medo ou conquista respeito de ninguém, o Coringa. Desde que saiu o primeiro trailer o assunto da galerinha era "Esse coringa vai ser foda" e as reportagens só turbinava essa sensação ao publicar que o ator Jared Leto mandava presentes assustadores a seus colegas de elenco e tal, no entanto , nos doze minutos que temos o coringa em cena, o que podemos ver é um cosplay ruim de um cara que bebeu demais e acordou sem sobrancelha, todo tatuado e achando que vive dentro de um clip de hip-hop do anos 90, ele é ridiculamente caricato e tem muito pouco a ver com o coringa dos quadrinhos que conhecemos. Ele é vaidoso e descuidado, capaz de ficar quietinho para ser tatuado e aproveitar a noite em festas regadas a champanhe e passeios de Lamborghinis escandalosas, sua relação com Arlequina, que sempre foi de desrespeito e manipulação, sempre tendo o abuso como pano de fundo, no filme é apresentada como romântica e vemos o vilão ter ciumes de suas parceira e gastar 90% de seu tempo em tela buscando resgata-la, algo que não faz sentido e desagrada no personagem, pelo fato dele ser um ícone grande demais para ter seus valores e representação invertidos assim. O Coringa de Leto é tão ridículo, que fiquei me perguntando ao assistir o filme, que se o Batman de S vs B, era tão malvadão, porque não matou esse idiota de uma vez?

Tiozão bêbado Cracolância
Outro personagem que me faz cerrar os dentes quando lembro é a tal de Magia e seu alter ego Julie Moon. É difícil de imaginar os pensamentos e planos de uma entidade mágica milenar de outra dimensão, mas criar uma máquina para causar o terror nos seres humanos para que eles voltem a adora-la e assim dominar o mundo me parece muito, mas muito idiota; despertar o irmão monstrengo para chamar a atenção de todos então parece mais idiota ainda e dançar igual ao didi imitando o Ney matoGrosso enquanto realiza feitiços, aí já é um desrespeito para quem pagou para assistir essa coisa. Para piorar, quando o roteiro vê necessidade, essa mesma bruxa terrível e milenar se torna fraca e prefere lutar corpo a corpo contra uma palhaça que usa uma bastão de basebol e seu irmão, que transformou toda uma cidade em zumbis, não consegue matar um cara com uma pistola, outro com bumerangues e meia dúzia de soldados. Em contra partida a essa vilã terrível (que deveria casar com o Loki de vingadores e ter filhos burros e com planos bestas) temos sua versão humana, que é Julie Moon, que é a pior arqueóloga do mundo! Sério pessoal, cês não tão entendendo, ela descoberto um sítio arqueológico entra sozinha e , do nada, destrói uma relíquia milenar acabando possuída por essa entidade... quem assistiu ao national geografic uma vez, ou tem o minimo de conhecimento, sabe que sítios arqueológicos não são propriedades pessoais e que são responsabilidades de faculdades, governos, entidades, não de uma arqueóloga modelo de 30 anos e o pior é que a personalidade da personagem é tão frágil e dependente que para a estabilizar Amanda força um romance entre Julie Moon e Rick Flag, o que me faz lembrar de outra coisa ruim, a Montagem.

família, cachorro, gato, galinha
O filme tem a pior montagem desde "Armagedom" de Michael Bay. Não se consegue entender nada na apresentação dos personagens e os diálogos parecem ser sempre correndo, tornando tudo mais confuso do que ágil, no meio dessa loucura toda, o que se destaca é a quantidade de bobagem repicada que Amanda Waller fala ao explicar seus planos na mesa com o secretário de segurança, quando ela conta a história dos recrutáveis enquanto temos imagens mostrando da forma mais brega possível como a Arlequina acabou presa e piegas da prisão do pistoleiro, tudo isso repleto de uma música por segundo. Sem falar no romance entre Julie Moon e Rick Flag, que é apresentado tão rápido, que não dá o menor tempo de fazer com que nos importemos com o casal, o que ainda é aditivado pelo fato de os dois atores que interpretam o casal terem o carisma de uma cenoura seca; a montagem ainda peca estragando as piadas dos filme, como na hora em que depois que dá merda, Rick Flag diz que todo mundo pode ir embora e o Capitão bumerangue se levanta e sai, a cena corta e menos de dois minutos depois vemos ele com o grupo indo atrás do vilão final, que sentido tem isso?
Para completar a bagunça que é a montagem do filme, temos a trilha sonora descoladinha. O filme tem mais músicas do que a vilã tem anos de vida, é muita música! A primeira cena do filme, onde temos a apresentação do personagem do Will Smith, começa com "House of the rising sun" dos The Animals, corta para apresentação da Arlequina, temos outra música, em seguida corta para a apresentação da Amanda Waller e lá vem "Symphaty for the devil" dos Rolling Stones, não tem como a pessoa não ficar tonta. Completando temos ainda Arlequina dançando na boate ao som de música eletrônica, música do Emminen quando os uniformes e armas são dados aos membros do grupo e acabando o filme com a música do "Queen", o que faz a gente pensar se o filme não foi dirigido por um Dj ao invés de um diretor de cinema.

Coisas Boas...

O filme não é o pior da história. Mas em comparação ao que a publicidade apresentou, ele é uma mentira, mas entre essas mentiras temos coisas boas, como a interpretação de Viola Davis como Amanda Waller, que consegue passar bem o tom de pessoa calculista e sem escrúpulos que só pensa em poder e até a Margot Robie, que , fora as piadas sem timing, parece ter captado o tom da personagem Arlequina, Além dessas duas e do Pistoleiro (Will Smith) que são bem explorados, um destaque é o personagem "El Diablo", que tem todo um arco, começa a história agindo e pensando de um jeito e termina crescendo e sendo fundamental para o encerramento da trama (embora tenha momentos bem piegas). Outra coisa bacana é a participação do Flash, que é de um segundo e empolga mais do que todas as outras cenas de ação do filme... e só.

Muito bem (ou muito mal) ! Eu poderia me estender ainda falando desse filme, contando mais sobre a trama, sobre as cenas de ação e como os problemas se resolvem, mas vou parar por aqui porque só de lembrar desse filme já faz com que eu me sinta mal. Esquadrão Suicida é uma mentira, que tem como mérito para sua arrecadação inicial, não o fato de ser um bom filme, mas sim de ter uma indústria publicitária competente por trás, que lhe garantiu rentabilidade inicial, mas que certamente não pode lhe assegurar o mesmo retorno após a quantidade de críticas negativas que surgiram depois da primeira semana de cartaz. Um filme decepcionante que faz com que cada vez mais se perca a fé nas produções DC/Warner e no futuro desse universo, me deixou apenas a lição de que nunca devemos nutrir expectativas e que bons atores juntos, nem sempre significam um bom filme ao final.
Minha dica final, para quem quer se divertir assistindo esquadrão suicida em uma história adulta, cheia de reviravoltas, violência e personagens de ética duvidosa é: Assista a "Batman:Ataque ao Arkham", desenho de 2014 que consegue com muito menos pretensões ser tudo o que o filme não consegue.

"Esquadrão Suicida" é um filme raso e ruim, cheio de falhas de roteiro e ritmo, irritante com suas milhares de músicas e personagens pouco desenvolvidos, com seu marketing gigante e mentiroso e sua montagem maluca. Um filme que serve apenas para diminuir a impressão negativa de filmes como "Batman e Robin", quando comparados a ele, um filme esquecível e mal produzido, que prometeu trazer uma história sobre os vilões da DC comics, mas que apresentou a história dos vilões reais da Warner, que são seus roteiristas, tanto que quase consigo imaginar David Ayer falando a frase da Arlequina ao ser questionado de como surgiu esse roteiro primoroso: "Somos os caras maus, é isso que fazemos!" , sim, eles são.. os maus escritores.

Vou sair de fininho

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