quinta-feira, 16 de junho de 2016

PERDIDO EM MARTE - O livro

Quem me conhece sabe o quanto sou fã de ficção científica. Gosto do estilo, em parte, pelo escapismo que ele me trás quando leio, fugir do cotidiano em uma história que me apresenta um universo que se diferencia do nosso me ajuda a relaxar e exercitar a imaginação; por outro lado, o modo como alguns autores conseguem pensar fora da caixa , questionando nossa sociedade e resolvendo problemas imaginativos é o que me fascina nesse tipo de literatura. E,nesse segundo quesito, poucos livros foram uma surpresa tão bacana como "Perdido em Marte" de Andy Weir, que li recentemente.

"Perdido em Marte", conta a história de Mark Watney, décima sétima pessoa a pisar no planeta vermelho e sexto em hierarquia da tripulação de seis pessoas da Ares-3, formado em Botânica e Engenharia, suas funções na expedição consistiam em coletar amostras de solo e efetuar reparos em casos de necessidade. A missão da Ares-3 vinha sendo realizada com sucesso até que no sexto dia uma tempestade, que põe em risco a tripulação, força os mesmos a abortar a missão e, durante o processo de retira, Watney é atingido por uma antena que se solta do alojamento e dado como morto; no meio da tempestade e sem conseguir encontrar o corpo do suposto falecido, a equipe evade do planeta. Watney acorda horas depois, com uma antena presa na lateral de seu corpo e um planeta inóspito todinho para chamar de seu, restando os suprimentos que sobraram da missão e sua inteligência para ajuda-lo a sobreviver e buscar contatar a NASA na esperança de ser resgatado.

Soube que "Perdido em Marte" ( ou "The Martian", no original) era um livro, apenas quando, no Oscar, o filme baseado nele concorreu a melhor roteiro adaptado. Vi o filme por causa da direção de Ridley Scott, que eu sentia que estava em débito comigo desde "Prometheus" e fiquei contente com o que vi, um filme inteligente mas divertido, leve sem deixar de ser dramático e muito bem conduzido pelo diretor de clássicos como "Blade Runner" e "Alien", acontece que o livro eleva tudo que se vê no filme a nona potência.
Andy Weir escreve de forma que parece tão fundamentada, que foi a primeira vez que um livro de ficção científica conseguiu me convencer que tudo que ocorria em suas linhas poderia ser verdade. Para começar com a quantidade de explicações científicas que ele utiliza para informar como que cada evento ocorrido com Watney é superado, só isso mostra um trabalho de pesquisa incrível por parte do autor e um talento para didática empolgante, porque ele consegue transformar física e química em algo divertido e prático, e que, embora seja apresentado como elemento de narrativa ( e por isso superficial), fazem até um cara como eu de humanas, achar o assunto fascinante. Outra qualidade do autor que o livro trás é a imaginação da evolução das tecnologias atuais, ele evolui muitas tecnologias que já estão em uso ou teste e além de descreve-las, as mostra sendo utilizadas na história, isso o coloca em um nível bem auto de futurólogo e já fico imaginando quando chegarmos a Marte as pessoas dizendo "Olha aí, o Andy Weir estava certo!".

Outra coisa que me surpreendeu no livro foi a quantidade de problemas a serem resolvidos pelo protagonista. Meu Deus!! se fosse eu morreria em duas horas. O cara tem que calcular e racionar comida, energia, oxigênio, Gás Carbônico, pensarem como produzir alimento, modificar o veículo de exploração, se comunicar com a terra, aprender código morse e sobreviver as músicas e séries dos anos 70 e tudo isso na maior parte do tempo sem uma única pessoa (ou tutorial do Youtube) para ajudar, é um livro que realmente utiliza a ciência como grande estrela e isso o torna um em milhões, porque embora seja ficção científica, a ciência é muito real, muito pé no chão; o autor poderia colocar a história para daqui a trezentos anos e assim focar no drama humano ou sociedade e tratar a questão da viagem espacial como alegoria, mas ao contrário disso, seu foco é total na ciência e isso da mais valor a leitura de sua obra.



Além do citado acima, o livro ainda é muito bem humorado. Mark Watney é uma figuraça que mesmo sozinho a milhões de quilômetros de casa, nunca perde o bom humor e a esperança. Seus monólogos questionando até onde suas gambiarras vão aguentar são pontuais para dar aquela aliviada em momentos onde a história usa muitos termos técnicos e explicações científicas, e, suas conversas com a terra e a nave Ares-3, após ele conseguir contato novamente, contém tantas piadas e sarcasmos que é impossível não colocoar um sorriso no rosto de quem está lendo, deixando além de tudo uma mensagem de otimismo e bom humor aliada a inteligência e razão.

A forma como o autor conta a história ajuda demais a colocar o leitor dentro da história, embora por vezes canse um pouco. Andy Weir utiliza uma narração em primeira pessoa em formato de diário e isso reforça a sensação de solidão do protagonista nas primeiras cinquenta páginas do livro, mas confesso que essa solidão me incomodou um pouco a principio porque me dava uma agonia ao querer saber como seus companheiros e a equipe na terra estavam reagindo com sua "morte", para o meu alívio, depois de uma parte do livro somos apresentados a essas reações e opiniões dos outros ambientes da história e aí a trama engrena em uma sucessão de ideias e pontos de vista que dão ainda mais riqueza ao livro.

Essa escolha por, primeiramente apresentar toda solidão e escolhas do protagonista, é muito inteligente, porque gera uma empatia tremenda com Watney; no inicio do livro estamos tão perdido quanto o astronauta e mal sabemos como o acidente que o isolou em Marte ocorreu, o fato só é explicado no meio do livro, em um flashback que nos da deslumbres da personalidade de toda equipe, nos fazendo simpatizar por eles e apoia-los em suas decisões. A partir daí, a tensão que o texto segue faz com que um capítulo (ou sol) seja devorada compulsoriamente, só parando quando a última palavra é lida, uma construção de texto realmente hipnotizante.


Como já mencionei acima, "Perdido em Marte" é um ótimo livro. Inteligente, engraçado e bem escrito ,dá muito mais profundidade a história contada no filme e dentro dessa leva nova de ficção científica o coloco como obrigatório. Sua construção e narrativa parecem muito mais o trabalho de um escritor experimentado do que o primeiro trabalho de um jovem engenheiro de software e esse é outro fato que surpreende e me alegra como fã de ficção científica, a percepção de que o estilo vem renovando e a esperança de descobrir mais livro como este, assim como a expectativa dos próximos trabalhos de Andy Weir. Em resumo, "Perdido em Marte" é um livrão e recomendo demais e a propósito, Alguém poderia me dizer por que o Aquaman controla baleias? Elas são mamíferos... não faz sentido!!

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