Quem me conhece sabe o quanto
sou fã de ficção científica. Gosto do estilo, em parte, pelo
escapismo que ele me trás quando leio, fugir do cotidiano em uma
história que me apresenta um universo que se diferencia do nosso me
ajuda a relaxar e exercitar a imaginação; por outro lado, o modo
como alguns autores conseguem pensar fora da caixa , questionando
nossa sociedade e resolvendo problemas imaginativos é o que me
fascina nesse tipo de literatura. E,nesse segundo quesito, poucos
livros foram uma surpresa tão bacana como "Perdido em Marte"
de Andy Weir, que li recentemente.
"Perdido em Marte",
conta a história de Mark Watney, décima sétima pessoa a pisar no
planeta vermelho e sexto em hierarquia da tripulação de seis
pessoas da Ares-3, formado em Botânica e Engenharia, suas funções
na expedição consistiam em coletar amostras de solo e efetuar
reparos em casos de necessidade. A missão da Ares-3 vinha sendo
realizada com sucesso até que no sexto dia uma tempestade, que põe
em risco a tripulação, força os mesmos a abortar a missão e,
durante o processo de retira, Watney é atingido por uma antena que
se solta do alojamento e dado como morto; no meio da tempestade e sem
conseguir encontrar o corpo do suposto falecido, a equipe evade do
planeta. Watney acorda horas depois, com uma antena presa na lateral
de seu corpo e um planeta inóspito todinho para chamar de seu,
restando os suprimentos que sobraram da missão e sua inteligência
para ajuda-lo a sobreviver e buscar contatar a NASA na esperança de
ser resgatado.
Soube que "Perdido em
Marte" ( ou "The Martian", no original) era um livro,
apenas quando, no Oscar, o filme baseado nele concorreu a melhor
roteiro adaptado. Vi o filme por causa da direção de Ridley Scott,
que eu sentia que estava em débito comigo desde "Prometheus"
e fiquei contente com o que vi, um filme inteligente mas divertido,
leve sem deixar de ser dramático e muito bem conduzido pelo diretor
de clássicos como "Blade Runner" e "Alien",
acontece que o livro eleva tudo que se vê no filme a nona potência.
Andy Weir escreve de forma que
parece tão fundamentada, que foi a primeira vez que um livro de
ficção científica conseguiu me convencer que tudo que ocorria em
suas linhas poderia ser verdade. Para começar com a quantidade de
explicações científicas que ele utiliza para informar como que
cada evento ocorrido com Watney é superado, só isso mostra um
trabalho de pesquisa incrível por parte do autor e um talento para
didática empolgante, porque ele consegue transformar física e
química em algo divertido e prático, e que, embora seja apresentado
como elemento de narrativa ( e por isso superficial), fazem até um
cara como eu de humanas, achar o assunto fascinante. Outra qualidade
do autor que o livro trás é a imaginação da evolução das
tecnologias atuais, ele evolui muitas tecnologias que já estão em
uso ou teste e além de descreve-las, as mostra sendo utilizadas na
história, isso o coloca em um nível bem auto de futurólogo e já
fico imaginando quando chegarmos a Marte as pessoas dizendo "Olha
aí, o Andy Weir estava certo!".
Outra coisa que me surpreendeu
no livro foi a quantidade de problemas a serem resolvidos pelo
protagonista. Meu Deus!! se fosse eu morreria em duas horas. O cara
tem que calcular e racionar comida, energia, oxigênio, Gás
Carbônico, pensarem como produzir alimento, modificar o veículo de
exploração, se comunicar com a terra, aprender código morse e
sobreviver as músicas e séries dos anos 70 e tudo isso na maior
parte do tempo sem uma única pessoa (ou tutorial do Youtube) para
ajudar, é um livro que realmente utiliza a ciência como grande
estrela e isso o torna um em milhões, porque embora seja ficção
científica, a ciência é muito real, muito pé no chão; o autor
poderia colocar a história para daqui a trezentos anos e assim focar
no drama humano ou sociedade e tratar a questão da viagem espacial
como alegoria, mas ao contrário disso, seu foco é total na ciência
e isso da mais valor a leitura de sua obra.
Além do citado acima, o livro
ainda é muito bem humorado. Mark Watney é uma figuraça que mesmo
sozinho a milhões de quilômetros de casa, nunca perde o bom humor e
a esperança. Seus monólogos questionando até onde suas gambiarras
vão aguentar são pontuais para dar aquela aliviada em momentos onde
a história usa muitos termos técnicos e explicações científicas,
e, suas conversas com a terra e a nave Ares-3, após ele conseguir
contato novamente, contém tantas piadas e sarcasmos que é impossível
não colocoar um sorriso no rosto de quem está lendo, deixando além
de tudo uma mensagem de otimismo e bom humor aliada a inteligência e
razão.
A forma como o autor conta a
história ajuda demais a colocar o leitor dentro da história,
embora por vezes canse um pouco. Andy Weir utiliza uma narração em
primeira pessoa em formato de diário e isso reforça a sensação de
solidão do protagonista nas primeiras cinquenta páginas do livro,
mas confesso que essa solidão me incomodou um pouco a principio
porque me dava uma agonia ao querer saber como seus companheiros e a
equipe na terra estavam reagindo com sua "morte", para o
meu alívio, depois de uma parte do livro somos apresentados a essas
reações e opiniões dos outros ambientes da história e aí a trama
engrena em uma sucessão de ideias e pontos de vista que dão ainda
mais riqueza ao livro.
Essa escolha por,
primeiramente apresentar toda solidão e escolhas do protagonista, é
muito inteligente, porque gera uma empatia tremenda com Watney; no
inicio do livro estamos tão perdido quanto o astronauta e mal
sabemos como o acidente que o isolou em Marte ocorreu, o fato só é
explicado no meio do livro, em um flashback que nos da deslumbres da
personalidade de toda equipe, nos fazendo simpatizar por eles e
apoia-los em suas decisões. A partir daí, a tensão que o texto
segue faz com que um capítulo (ou sol) seja devorada
compulsoriamente, só parando quando a última palavra é lida, uma
construção de texto realmente hipnotizante.
Como já mencionei acima,
"Perdido em Marte" é um ótimo livro. Inteligente,
engraçado e bem escrito ,dá muito mais profundidade a história
contada no filme e dentro dessa leva nova de ficção científica o
coloco como obrigatório. Sua construção e narrativa parecem muito
mais o trabalho de um escritor experimentado do que o primeiro
trabalho de um jovem engenheiro de software e esse é outro fato que
surpreende e me alegra como fã de ficção científica, a percepção
de que o estilo vem renovando e a esperança de descobrir mais livro
como este, assim como a expectativa dos próximos trabalhos de Andy
Weir. Em resumo, "Perdido em Marte" é um livrão e
recomendo demais e a propósito, Alguém poderia me dizer por que o
Aquaman controla baleias? Elas são mamíferos... não faz sentido!!
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