domingo, 17 de janeiro de 2016

ONE PUNCH MAN

Eu pertenço à geração que cresceu assistindo a rede manchete. Aquele pessoal que corria para frente da TV depois das 18h30min e assistia anime em horário nobre. Bons tempos aqueles de “Cavaleiros do zodíaco” e “Yu-Yu Hakusho”, que foram minha porta de entrada no mundo dos animes e mangás e influência para conhecer títulos mais complexos como os clássicos, “May, a garota sensitiva”, “Gost in the shell “ e “Akira” ou extremamente divertidos, como o recém descoberto “One-Punch-Man”, do roteirista que atende apenas por “One” e ilustrada posteriormente, em forma de remake por Yusuke Murata.

Conheci “One-punch-man” revirando a internet atrás de novidades que fugissem um pouco da mesmice, mas que não se perdessem muito ao tentar se mostrar originais, um paradoxo difícil de satisfazer, mas que foi derrotado com um soco só no primeiro episódio do anime que conta a história de Saitama, um cara normal, que após salvar um menino de um monstro, resolve se tornar um herói por hobby. O problema é que Saitama se torna é extremamente poderoso conseguindo derrotar qualquer inimigo com apenas um soco, o que aos poucos o vai entediando e o tornando indiferente às situações em que se mete.

A história é bem simples e não foge muito das tramas habituais dos animes de ação. Mas se one punch man tem uma característica que consegue transcender sua intenção inicial, é a zoeira. O autor faz uma sátira bem humorada ao estilo exagerado desses mesmos animes e seus heróis e vilões capazes de destruir cidades inteiras com um único golpe, e isso não falta na série, é montanha sendo explodida, prédio sendo derrubado, cidades devastadas e no outro dia... Tudo tranquilo! E, no melhor estilo Tarantino, o desenho não poupa referências, tanto que no primeiro episódio Saitama derrota um vilão idêntico ao Piccolo de Dragon Ball (só que azul) e depois um gigante parecido com os de “Attack on titans” e no sétimo episódio ele ainda chama seu adversário de “Son Goku”, pura zoeira! Sem contar com as frequentes interrupções que o protagonista faz aos discursos de seus adversários, sempre com a frase “por que você fala tanto?” referência gritante aos episódios de blábláblá intermináveis de animes do mesmo gênero
anime x mangá 

Além das referências, ainda podemos destacar todo um questionamento filosófico sobre poder no melhor estilo Alan Moore. O que aconteceria se você pudesse derrotar qualquer adversário com um soco só? Esse é o dilema de Saitama, que não se sente desafiado, surpreso ou com medo, e esse poder, vai fazendo com que ele perca em parte a capacidade de interação com que o cerca, tanto que sua expressão parece sempre de indiferença e seus pensamentos deixam isso claro, como no caso onde ele e Genos (um ciborg que sonha em se tronar discípulo do protagonista) fazem um teste para serem heróis profissionais (pois a única parte de Saitama que ainda interage com o mundo é a vontade de ter um fã clube) e durante a reunião ele está pensando no que fazer para o jantar, ou quando enfrenta o ser mais poderoso da “casa da evolução” e está pensando na liquidação do supermercado, isso me fez lembrar um pouco do Dr.Mahattan de “Watchmem”, que já não via as pessoas que o rodeavam como iguais, perdendo-se em divagações sobre seus interesses particulares, e também do velho e bom superman, que com todo aquele poder, vive tranquilamente entre as pessoas; entre esses dois extremos, eu colocaria Saitama no meio e o elegeria como o mais humano, nem tão indiferente e nem tão presente.


A trama ainda traz mais reflexões ao apresentar uma “associação de heróis”, que aos poucos vai se mostrando um reduto de inveja e egocentrismo, se mostrando opostas as intenções iniciais do protagonista e de seu companheiro Genos. Mas é através dessa associação é que vamos conhecer mais pessoas que buscam fazer a diferença, como o ciclista mumen Rider, ou o mestre de artes marciais Silver Fang, e também onde muitas pontas soltas são deixadas, criando a esperança de mais uma temporada.

Outra questão que ganha pontos absurdos é o carisma dos personagens, em especial do protagonista. Sinceramente é muito chato se deparar com personagens egoístas e só pensam em ser “o mais forte”, e que sempre finalizam o inimigo final... Embora Saitama sempre acabe batendo de frente com o inimigo principal, sua indiferença quanto a situação e vontade de fazer o que é certo fazem com que torçamos por ele e até nos sintamos chateados quando ele se torna alvo da inveja de outros “heróis”. Os personagens periféricos, como Genos, Mumen Rider e até o misterioso ninja “velocidade sonora do som” (que nome é esse!) são outros exemplos que enriquecem a série com humor, ação e momentos edificantes; Genos já aparece como um combatente do mal e que fica tão espantado com os poderes do One Punch Man que se torna seu discípulo e passa episódio atrás de episódios tentando encontrar o segredo da força de Sensei Saitama. Velocidade sonora do som, é um ninja que trabalha como assassino e segurança e se confronta com o protagonista por engano e acaba por encontrar uma motivação e sentido para treinar para vencer a pessoa mais forte que já conheceu, mas é no humilde herói de classe C Mumen Rider que apresenta todo sentido de ser um herói , quando além de aparecer em episódios combatendo sem sucesso oponentes mais poderosos e em um situação de desastre ainda se responsabilizar pelo resgate de sobreviventes, coloca sua vida em risco enfrentando o rei do mar profundo; Mumen Rider é o oposto de Saitama no que se trata em poder e empatia, mas seu complemento no que tange a ser um herói e o modo como o autor nos mostra isso é perfeito.


One Punch Man me trouxe de volta aquela sensação que a falecida rede Manchete me trazia todos os dias as 18:30. Aventura super bem desenhada e de roteiro extremamente engraçado, diversão para todas as idades. Fica agora a torcida para que novas temporadas cheguem em breve, linckando as pontas soltas que ficaram e nos dizendo qual a origem dos poderes de Saitama. Embora eu devesse ter resumido tudo em vinte palavras, tinha muito para falar dessa obra que gostei bastante e digo que “One Punch Man” leva a recomendação máxima desse cara comum que escreve essas resenhas por hobby e que busca sempre fazer a coisa certa.






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