sábado, 9 de janeiro de 2016

O PLANETA DOS MACACOS (O livro)

Se eu perguntar sobre o planeta dos macacos, um grande número de pessoas vai citar a cena de Charlton Heston gritando “seus maníacos”, ao se deparar com a estátua da liberdade atolada em uma praia, no final do filme dos anos sessenta, outros, mais jovens, vão falar dos dois últimos filmes, que foram surpreendentemente bons e contar sobre a jornada heroica do chipanzé Cesar, e, existirão ainda os que se lembrarão do terrível filme do Tim Burton, com seu clima sombrio e pouco sentido. Mas, o que eu duvido é que metade de quem se lembra desses filmes, saiba que o roteiro de “O planeta dos macacos” foi baseado em um livro homônimo de ficção científica francesa.

O livro “O planeta dos macacos”, foi lançado em 1963, pelo escritor francês Pierre Boulle, que já tinha em seu currículo “A ponte do rio Kwai” outro livro que veio a se tornar um clássico do cinema e pelo qual ele ganhara um Oscar pelo roteiro. “O planeta dos macacos” conta a história de Ulisse Mérou, um repórter francês que no ano de 2500 é convidado por um ilustre cientista à ser um dos três membros de uma expedição espacial até uma distante estrela. Viajando quase a velocidade da Luz, os tripulantes atravessam o universo ao encontro da estrela Betelgeuse e do sistema que a tem como centro; um desses planetas, cujos níveis de oxigênio, presença de água e clima são idênticos ao da terra, se apresenta convidativo a tripulação, que o batiza de Soror e parte em sua direção. No entanto, os três tripulantes desconhecem que nesse planeta exista vida, incluindo uma raça idêntica a humana, mas que não passam de animais selvagens controlados por instinto e que servem de caça, animais de estimação e cobaias para a verdadeira  raça dominante, os macacos.

Cornellius, Zira e Mérou
O que eu achei bacana do livro é que o conceito presente é tão amplo que consegue ter trechos reconhecidos em todos os filmes acima citados. Obviamente o que tem um esboço mais parecido é o clássico de 1968, com a ideia de viagem espacial e a presença do casal de chipanzés cientistas Zira e Cornélius, assim como do pedante orangotango Zeius; O plot twist do final também remete ao livro com uma carga semelhante de desesperança, embora sejam bem diferentes entre si. Lendo o livro retirei grande parte do crédito que eu havia dado aos roteiristas do filme “Planeta dos macacos: A origem”, pois entendi que o que fizeram no filme foi apenas colocar o chipanzé Cesar na mesma situação de Ulisse Mérou no livro, a de ser um animal que pensa e que busca a principio ser reconhecido como um igual e, depois de se deparar com as barbaridades da raça dominante, resolve se tornar o agente libertador de seus iguais, fato em que Cesar é infinitamente mais bem sucedido do que Ulisse. Até o final aleatório do filme de Tim Burton ficou mais claro para mim ao ler o livro, embora que sua realização ainda continue a não fazer sentido.

Não precisava né Tim Burtom
Outra coisa que gostei foi pequena a sátira da nossa sociedade apresentada pelo autor nas entre linhas. A sociedade macaca (acho o termo muito engraçado) se divide em três grandes grupos, os Gorilas, que conforme o protagonista vem a descobrir através de pesquisa, foram os grandes líderes de um passado onde a força imperava, mas que passaram a dominar através da capacidade administrativa e política; Os pedantes e orgulhosos orangotangos, que são considerados a personificação da ciência e conhecimento, sendo responsáveis pela escrita dos livros didáticos, presidindo os conselhos científicos e estabelecimentos de ensino; e, os chipanzés, que são tratados como uma classe menor pelas outras duas, mas que se apresentam no livro como cientistas menos presos a dogmas e de emoções mais genuinamente humanas.



Através as três classes de macacos o autor parece colocar um espelho na frente da raça humana e expor suas lideranças como que agindo de forma a macaquear as gerações que a precederam evoluindo muito a custo. Com essa sátira o autor parece sinalizar uma defesa do direito dos animais (nos anos sessenta!!), invertendo o papel de poder e de descarte das cobaias usadas em estudos, fato que parece claro no longo relato que Pierre Boulle faz das experiências em humanos, além disso, o livro também parece sinalizar sobre o preconceito racial e social ao mostrar as três famílias de símios se menosprezando entre si para se acreditar superior cada uma a seu modo; mas talvez essa última observação pertença apenas a mim e nada tenha passado pela cabeça de Pierre Boulle, pelo fato de o livro ser fruto de seu tempo e como tal carregar em si seus preconceitos não intencionais.


ao meu sinal
Gostei do livro. Achei as duas surpresas do final bem tristes para quem esperava um fechamento edificante para o protagonista, mas é um plot twist bem legal e enriquece o livro. A leitura é fácil e divertida, embora por vezes pareça rebuscada demais para ser narrada por um cara do ano 2500, os últimos capítulos onde o autor tenta dar uma explicação sobre o porquê daquela troca de papéis entre humanos e macacos, utilizando uma humana que tem acesso as lembranças com inconsciente coletivo é demais. Em resumo, “O planeta dos macacos” é uma ótima leitura para quem quer relaxar e se divertir e, essencial para quem gosta de ficção científica, recomendo além de ler o livro assistir o filme de 1968 e o reboot de 2011 e verificar as semelhanças e diferenças entre as obras. Aproveita antes que os símios tomem conta de tudo... SEUS MANÍACOSSSS !!!

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