quinta-feira, 24 de setembro de 2015

BLACK MIRROR - Mas que baita série !

   O inicio do século XXI nasciam as ferramentas que se desenvolveriam e conectariam nos dias de hoje todo o planeta, aproximando quem está longe, proporcionando conhecimento, mas não permitindo que nada mais seja restrito e secreto. A cada minuto milhares e milhares de vídeos, fotos e pensamentos são compartilhados em rede para que qualquer um veja, tornando a vida de todos pública por menos que estes queiram e criando um fenômeno de influência cíclica entre a vida real e virtual cada vez mais forte. Pois jogando essa influência da tecnologia na enésima potência e imaginando o que isso poderia influenciar no cotidiano das pessoas, que nasceu “BLACK MIRROR”, série criado por Charlie Brooker e transmitida pela emissora canal 4 da Inglaterra.

   Black Mirror estreou em 2011 na Inglaterra e conta até agora com duas temporadas que somam sete episódios; o nome da série (espelho negro) faz referência direta aos visores de computador, smartphones e TV's tão presentes e influentes em nosso dia a dia; Seu formato retoma o estilo de histórias curtas como “Além da imaginação” e “contos da cripta”, onde cada episódio conta uma história única , separadas no tempo e realidade das demais histórias contadas nos outros episódios e sempre com um elenco e diretores diferentes, como se fossem filmes de uma hora.
   Descobri a série através do Anticast e resolvi conferir, e, para a minha surpresa a série é muito boa. Não chegou a ser amor a primeira vista, na verdade achei o episódio piloto meio fraco , não que ele seja ruim, sua realização e ideia são muito legais, mas por girar em torno de uma figura que é muito distante da minha realidade ( o primeiro episódio tem por protagonista o primeiro ministro inglês) não consegui a empatia necessária para me prender na história, o que foi corrigido logo a seguir quando escolhi dois episódios aleatórios (já que são histórias individuais) e assisti o terceiro episódio da primeira temporada e o segundo da segunda e fiquei embasbacado.
   A primeira coisa que me prendeu na série é o ótimo clima ficção científica e o fato de não explicar nada, respeitando a inteligência de quem assiste. As coisas vão acontecendo e se explicando sem pressa, sem narrador em off ou aquelas conversas bobas do tipo : “olha meu braço é biônico,pois graças aos avanços da tecnologia do ano 2072...”; Não! Em Black Mirror o episódio começa e caímos de paraquedas no universo que é apresentado sem saber o que está acontecendo e para onde vamos e isso nos dias de hoje, onde tudo é explicadinho, é ouro. Outro fato, e que tem totalmente a ver com a boa ficção científica, é que a série trata de pessoas, tendo todas situações decorrentes de problemas ou de inovação tecnológica como pano de fundo que impulsionam a trama e não como estrelas da série e isso torna tudo (ou quase tudo) que ocorre em cada episódio muito crível e só posso dar exemplo disso falando um pouco sobre os dois episódio que gostei mais.  

Urso branco
O episódio que me causou mais impacto foi “Urso Branco”, dirigida pelo criador da série, que é o segundo da segunda temporada. Nesse episódio uma mulher acorda sem memória em um quarto, de frente para uma tela com um símbolo que parece uma daquela naves dos joguinhos clássicos do Atari, ela vai gritando por ajuda em uma casa que não sabe se é sua e se depara com uma foto sua com um homem e uma pequena foto 3x4 de uma menina, então ela começa a ter flashs de memória com o homem e a menina e percebe logo a seguir que está sendo filmada por todos os lados por pessoas que transitam nas ruas ou ficam nas sacadas das casas, mas ninguém interage com ela, ao mesmo tempo, surge uma figura mascarada portando uma espingarda e parte atrás dela atirando , as pessoas começam a se aproximar filmando sem se meter na perseguição, em um clima que lembra o caso de Kitty Genevese, presente na hq do Wachtmen então ela encontra um posto de combustível onde um casal (que age normalmente) explica para ela que um sinal zumbificou as pessoas e a maioria se tornou um expectador, filmando e fotografando tudo sem interagir com nada, enquanto um grupo de pessoas que não foram atingidas pelo sinal resolveu criar o caos e caçar as outras, sendo a única opção procurar a origem do sinal, chamado urso branco, e destruí-lo. O clima é de uma distopia e a falta de memória da protagonista te coloca no mesmo nível dela, mas não dá para se enganar, em Black Mirror nada é tão óbvio, não há heróis e nada fica como começa, o final desse episódio é um tapa na cara e garanto que até os créditos serão apreciados.

Reveja o que aconteceu
   Outro episódio que tem todo aquele gosto de ficção científica bem escrita é o chamado “A história inteira de você”, dirigida por Jesse Armstrong. Nesse episódio, que parece se situar a algumas décadas no futuro, as pessoas possuem um implante atrás da orelha que lhes dá acesso a um back up de memória automático que possibilita rever suas memória recentes e distantes , com a possibilidade de zoom, leitura labial e foco em detalhes, sendo possível ver internamente (em sua própria mente) ou compartilhada ( aparecendo em TV's para que todas analisem) e também possui um assistente automatizado que diz as condições mentais e físicas do usuário, nessa realidade somos apresentados ao protagonista, um advogado que volta de um trinamento e encontra sua esposa em uma festa com os ex-colegas da faculdade e acaba desconfiando das atitudes da esposa com um desses ex-colegas , surge aí uma busca atras da verdade desse possível relacionamento em um mundo onde as memórias podem ser vistas e a possibilidade de mentir é quase nula, deixando a pergunta: “o que pode ser feito quando não se pode mentir ou esquecer?”. Simplesmente fantástico!

    Balck Mirror, foi para mim, o maior achado desses últimos tempos, ficção científica sutil e de qualidade. A Netflix, que não é boba e nem nada e vem crescendo no universo das séries, apresentando maravilhas como “Demolidor” e “Narcos”, já mostrou interesse em produzir mais temporadas da série e quem sabe ainda em 2016 nos presenteie com novas histórias. Enquanto esses novos episódios não saem, eu digo que vale muito a pena conferir os sete que estão ai dando sopa nas internets da vida esse espelho negro nosso de cada dia.