sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Ser chefe não é ruim , mas ser líder pode ser um tiro no pé (será?)


     Existem milhares de livros sobre liderança, assim como uma infinidade de revistas e palestras frisando o valor do líder; Em contra partida, a imagem do chefe vem sendo depreciada e vinculada a ideias e atitudes negativas ou truculentas. No entanto, nunca ouvi falar de quem enxergasse os atributos da liderança como um tremendo problema para quem os possui, ou quem veja a chefia como o reflexo da evolução natural, trocando em míudos: Ser chefe não é tão ruim para ninguém, mas ser líder é uma tremenda furada para si!
Ser líder tem seu custo
     O que Gandhi , Chê Guevara, Martin Luter king, Malcon X, John Kenedy , John Lennon e Jesus Cristo tinham em comum além do dom da liderança?.... Sim! Todos foram assassinados. Trazendo para um plano menos dramático e extremo, quem lidera (com toda força que esse conceito tem) inspira alguém a fazer algo , e, quem inspira se torna fonte do problema ou, no mínimo, uma ameaça futura e uma hora ou outra passa a ser visado e até perseguido, pois ninguém quer uma ameaça futura por perto.Por outro lado há o chefe e esse não inspira ninguém , ele aponta o que deve ser feito; ninguém tem expectativa positivas com um chefe, se ele for razoável beleza, se ele for ruim já era esperado ; O chefe não é uma pessoa, ele é a personificação da “lei convencionada”, então o que parte dele não é pessoal e isso diminui sua culpa nas atitudes tomas, fato que o prende nos trilhos da hierarquia, e quem é preso à uma hierarquia oferece muito pouca ameaça.
  
    Embora muita gente diga que não, acredito que a liderança seja inata, ou no mínimo fruto de uma infância que favoreceu a maximização de seus atributos que tem a ver com carisma, personalidade e atitude , e isso não se pode fingir por muito tempo. Já a chefia é uma arte que embora também necessite de algumas particularidades, são amplamente observáveis e podem ser facilmente treinadas.Abaixo cito algumas para quem aspire a chefia de qualquer coisa:

1 – Vistasse como um chefe: Ninguém leva a sério alguem que vai trabalhar com uma camiseta dos X-men ou Star Wars , então deixe a “descolabilidade” de lado e prefira o jeans básico ou calças sociais e a boa e velha camisa abotoada ou polo , preferencialmente em tons escuros e discretos , lembre-se que animais muito coloridos são venenosos e a última coisa que se quer é causar essa impressão ao subconsciente de alguém acima na hierarquia do grupo de ser uma possível ameaça.
2 – Sempre Fale Alto: falar alto denota autoridade e razão, pelo ser humano médio é visto como simbolo de força e inibição, além de ser uma ferramenta de demarcação de território. Quem pretende chegar a um cargo de chefia (em qualquer área de sua vida) deve treinar sua voz para sempre se sobre por a dos outros, pois na maioria dos casos vale mais a pena ser ouvido do que dar-se a entender.

3 – Tenha sempre muita energia: Esqueça a paz, chefe que é chefe está sempre parecendo nervoso e se movimentando, não que esse movimento seja produtivo, mas deve parecer que há uma preocupação por algo que as pessoas normais não notam. Se estiver no serviço saia da sala apurando o passo umas seis vezes por dia, caso esteja tomando chopp com amigos da faculdade, olhe o celular periodicamente de tempos em tempos e suspire como se estivesse com raiva, mas sem perder o bom humor ao retomar o assunto da mesa, isso dá a impressão de responsabilidade e também de companhia suportável (o famoso sério porém não ranzinza ).

4 – Nunca meta a mão: O chefe é quem manda, quem faz é o funcionário, até porque quem faz erra e um chefe não pode se dar ao luxo de errar ,então nunca faça o trabalho de ninguém, seja para ajudar ou para treinar alguém, o máximo que se pode fazer nesse caso e indicar outro para executar a função e já é muito.

5 – Sempre tenha alguém para culpar: Se o chefe é a personificação da lei convencionada, essa lei é inequívoca , portanto as falhas que podem ocorrer no caminho devem ser de responsabilidade de alguém. Isso torna imprescindível que as falhas de quem é chefiado sejam sempre expostas e lembradas, para que fique claro que o chefe é o elemento que procura a ordem em meio ao caos gerado pelos outros.

6 – Sempre tenha certeza: Como personificação da lei um chefe nunca erra, nunca titubea e nunca tem dúvida, ele sempre sabe e , se por uma falha de outra pessoa( vide numero 5) os resultados se apresentarem contrários ao que o chefe dizia no inicio, ele deve utilizar da técnica do duplipensamento e afirmar quantas vezes achar ser necessário que sempre pensou do jeito certo, até que quem duvide se dê por vencido.

     Podemos até fazer um paralelo com os animais. Na natureza não há lideranças, ninguém segue na frente contra as possibilidades de sobrevivência esperando que os outros os sigam, o que há são chefes; Um macho Alpha entre os lobos impõe sua força para manter sua sobrevivencia e de quebra guia a matilha na busca de comida e abrigo, mas o maior exemplo de chefia é Leão, nele se encontram grande parte das características citadas. Um Leão já se mostra imponente por seu visual (item 1) sabemos quem é o chefe quando vemos seu porte e a juba que ostenta, ele não caça, quem faz isso é a fêmea , ele segue lentamente atrás sem meter a mão no trabalho (item 4) e ainda como primeiro e sempre fala alto (item 2) e, por combinar essas atribuições é chamado de rei da selva, imagina se utilizasse de mais itens, onde ele poderia chegar?
     Afirmado tudo acima, podemos chegar a conclusão de que, para o indivíduo ser chefe não é nada ruim e para quem é chefiado não é a pior coisa do mundo, mas a liderança, pelo contrário, representa um perigo ao próprio líder que se torna alvo da desconfiança e ressentimento de quem se sente atingido pelas atitudes e ideias de quem foi inspirado por ele.


7 - E ACIMA DE TUDO.... NÃO ACREDITE EM TUDO QUE LÊ


    

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Dica de HQ: HINTERKIND


   Recentemente resolvi voltar a ler HQ's , talvez influenciado pela invasão que essa mídia causou no cinema ou para buscar um entretenimento mais leve e rápido do que os livros e séries, e, decidido isso, fui atrás do que poderia prender minha atenção de homem de trinta e poucos anos e não é que no meio de tanta coisa eu fiz um achado fantástico?! Se trata de “Hinterkind”, série periódica da Vertigo escrita por Ian Edginton e desenhada por Francesco Trifogli.
Capa da Primeira Edição
    A História é o seguinte: décadas atrás houve um cataclismo que devastou a raça humana, deixando poucos grupos de seus membros isolados pelo mundo, com isso as criaturas que eram tidas como mitos e contos de fada, saíram de seus esconderijos e passaram a viver livres no mundo, entre elas se encontram sátiros, ogros, elfos , vampiros entre outros.A trama começa mais ou menos quarenta anos após esse evento e apresenta um grupo que está sediado em Nova York , entre essas pessoas conhecemos Angus, um garoto tímido e que esconde um segredo da comunidade, sua melhor amiga Prosper, aventureira e excelente caçadora , e o Dr .Asa Monday ,avó de Prosper e médico do grupo; esses três, são os responsáveis iniciais por nos apresentar esse mundo e nos ligar a outros personagens, e, isso começa quando o Dr Monday se voluntaria para buscar notícias de uma base de vigilância que não está respondendo aos chamados de rádio, sendo seguido de longe por sua neta e seu amigo sem saberem que entrarão em contato com todo tipo de criatura, um reino de Elfos em uma guerra familiar pelo poder e uma invasão de vampiros Europeus .
   
Vampirada soltando o dedo
Ian Edginton conta a história sem pressa , passando do grupo humano para criaturas caçadoras de gente, entregando um pouco sobre situação do reino dos Sidhe (Elfos)e do grupo paramilitar vampiro e, assim vai nos introduzindo nesse mundo pós apocalíptico, que por vezes é mágico, mas que quase sempre é terrível. Os desenhos de Francesco Trifogli são maravilhosos, lembrando em muito a Heavy Metal no seu auge, cada quadrinho é uma obra prima, a aparência dos vampiros (que são os personagens que eu acho mais bacanas, embora estripem criancinhas) é muito legal, roupa militar lembrando o regime nazista, olhos negros, dentes incisivos e organizados hierarquicamente como uma verdadeira unidade militar.
    Resumindo, “HinterKind” é uma obra fantástica que consegue reunir o conceito de fim do mundo, com contos de fada, trama política e terror , com um roteiro que não insulta a inteligencia de quem lê e arte que maravilha quem olha, de um jeito que te faz torcer para o próximo número chegar. Recomendo muito!

Caçando em Nova York
Nova York por Trifogli

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

NO LIMITE DO AMANHÃ ( ou, sem limite, se é que você me entende!)


  Nunca ameace alguém que tem teu destino nas mãos ! Essa é a lição que o Major William Cage deveria ter lembrado antes de ameaçar destruir a imagem do general inglês que o chamou até Londres. Tudo ocorre devido a missão dada pelo general a Cage, Partir com as tropas para o campo de batalha, juntamente com uma equipe de filmagem, para gravar momentos heroicos que ajudassem a propagandear a guerra contra os alienígenas, inspirando soldados e motivando possíveis candidatos ao alistamento; no entanto, ao ameaçar o líder da resistência ocidental na Europa , Cage é preso por insubordinação e enviado para a frente de batalha como desertor , onde viverá uma situação que mudará seu destino e da resistência. Assim começa “No limite do Amanhã” ficção científica de 2014, dirigido por Doug Liman e estrelado por Tom Cruise e Emily Blunt.
Venha para a Força de defesa unificada
   O Filme se passa em um futuro onde Alienígenas conhecidos como miméticos invadiram a terra a partir da Europa e , começando pela Alemanha, iniciam uma ofensiva contra a humanidade; a raça humana decide se unir contra esse inimigo em comum e anos depois, já em poder da tecnologia dos exosuits, exoesqueletos que servem como arma, ampliando a força e velocidade do usuário e carregando um arsenal que contem metralhadoras e canhões, alcançam sua primeira grande vitória na batalha de Verdun, na França, é nessa batalha onde Rita Vrataski (Emily Blunt) se destaca eliminando centenas de inimigos, ganhando o apelido de Anjo de Verdun e tornando-se o “rosto” das defesas unidas da Terra ,confiantes por essa vitória , a resistência humana decide enviar uma ofensiva definitiva contra as forças dos miméticos , é na véspera dessa ofensiva que William Cage (Tom Cruise) se desloca até a Inglaterra para ter a fatídica conversa que acaba por coloca-lo no campo de batalha. Cage era um publicitário que após ver sua empresa falir devido ao esforço mundial de guerra que quebrou o mercado, ingressou no exército tornando-se relações públicas e marqueteiro da guerra, sua função era tornar a guerra atrativa e manter as pessoas dispostas a apoia-la; ou seja, ele é um oficial de apoio , não um combatente, é um soldado que nunca sequer pegou em uma arma e por desrespeitar e chantagear um superior é enviado para a batalha como proscrito (leia-se, para morrer) e é durante a invasão que após ver o esquadrão que fazia parte ser dizimado e se encontrar cercado por uma dezena de miméticos tendo em sua frente um que se destacava por sua cor azulada , que Cage , em um momento de desespero, aciona um explosivo que é detonado no momento que ele é atacado, cobrindo seu corpo com o sangue desse mimético diferente e no instante seguinte, ele está novamente sendo acordado no porta aviões que se dirigia, um dia antes, para a batalha onde ele morreu.
O sangue do Alfa tem poder
   Willian Cage fica preso em um loop temporal. O que ocorre é que o mimético diferente que morreu junto com ele na explosão, se tratava de um dos agentes da arma secreta que esses alienígenas possuíam, que é o poder de manipulação do tempo; Sempre que um desses alienígenas azulados, que são chamados de Alfa e que ocorrem na proporção de um a cada seis milhões de miméticos, morria, uma mensagem era enviada a outro agente dessa capacidade, chamado ômega, que reiniciava o dia e esse loop só parava quando a vitória era certa. Acontece é que esses miméticos não são um organismos individuais por completo, eles possuem uma consciência coletiva, agindo como um ser só, sendo os soldados os braços ,os Alfas os nervos e o Ômega o cérebro; ao ter contato como sangue do Alfa, Cage absorveu seu poder de mandar o Ômega reiniciar o dia, voltando do exato momento em que é acordado no porta aviões , morrendo e vivendo o mesmo dia infinitas vezes. É assim que, salvando a Sargento Vrataski, descobre que ela teve a mesma experiência que ele , motivo pelo qual se destacou na vitória da batalha de verdun, pois já sabia tudo que aconteceria, mas que perdeu seus poderes ao sofre uma transfusão de sangue quando após uma dessas batalhas onde foi ferida mas não morreu sofreu uma transfusão de sangue ( o poder fica contido no sangue) ; Ela passa então a treina-lo e o apresenta ao Dr. Carter, físico de partículas e microbiologista avançado, que explica a teoria de manipulação de tempo efetuada pelos miméticos e a única maneira de derrota-los, que seria a destruição do Ômega ,o sistema nervoso central da invasão, acabando de uma vez só com o inimigo.
De novo, de novo e de novo....

    Cage passa a experimentar todas as possibilidades daquele dia, buscando encontrar uma chance de fugir da praia e chegar até o Ômega, que tinha sua localização entregue a ele através de visões que ocorriam pouco antes de acordar no porta aviões, em uma dessas vidas, ele consegue se deslocar até o local e descobre que se tratava de uma armadilha, assim como a vitória de Verdun, a pista sobre a localização do ômega servia apenas para que os alienígenas pudessem anular o poder contido no sangue de um humano. Para poder encontrar a localização verdadeira do ômega, o Dr. Carter explica que eles precisam de um equipamento que está no poder do General que mandou Cage para o campo de batalha, o que ele consegue após outra infinidade de loopings se apossar do equipamento e fugir do QG das forças armadas, extraindo a informação contida em seu sangue, de que o Ômega se encontra no museu do Louvre ( veja só!), no entanto, após ter acesso a essas revelações, Ele, juntamente com Rita Vrataski, são capturados e ele é ferido e acorda no hospital no meio de uma transfusão de sangue , seu acesso ao loop temporal é perdido.
  
Hey hey hey, tem brasileiro no esquadrão Jay !
Cage tem a ideia de convocar o batalhão J, do qual fazia parte, revelando a eles tudo o que estava acontecendo, os convencendo ao mostrar que sabia tudo sobre a vida de todos, informações que ele recolheu através das inúmeras repetições daquele dia. Eles partem então para Paris horas antes do embarque que deveriam fazer para a praia e são derrubados chegando ao Louvre, Um a um os soldados vão se sacrificando para que Cage e Rita cheguem até o ômega , que está abaixo do estacionamento inundado do Louvre; chegando lá eles encontram um alfa que guarda o local e Rita decide sacrificar-se para dar tempo de cage alcançar o Ômega, ele se atira no estacionamento tendo em mãos um cinturão de granadas , mas próximo ao ômega, o Alfa consegue encontra-lo e atingi-lo, mas já é tarde e as granadas explodem destruindo o cérebro da invasão alienígena , o Alfa e o próprio Cage e no instante seguinte, ele está acordando novamente, mas agora no helicóptero que o levou ao líder da resistência na Europa e quando chega em terra é informado de que na madrugada anterior uma explosão inativou todos os miméticos, declarando uma possível vitória humana. Após isso ele vai até o porta aviões para onde foi levado em seus loopings e se depara com a tropa J viva fazendo exercícios então se dirige até onde era treinado por Rita Vrataski e a encontra viva e bem, terminando o filme com o emblemático sorriso do Tom Cruise.

O Anjo de Verdun

   Gostei muito do filme! Não é surpresa que eu sou muito fã de ficção Científica e esse filme me satisfez , consegue apresentar o conceito de loop temporal e a utilização de tecnologias de guerra que estão sendo estudadas e planejadas na vida real, e , ao mesmo tempo ser divertido. O personagem do Tom Cruise não é um fodão, que tem as respostas para tudo, mas sim um covarde que se vê obrigado a agir, seguindo a idéia proposta por Chico Anísio de que “Herói é o sujeito que não teve tempo de fugir” e aprende com seus erros; Para dizer a verdade, o que define esse filme como ficção científica mesmo é fato de não se ver o Tom Cruise correndo! Emily Blunt está fantástica! Eu acredito nela quando ela aparece no campo de batalha, ela transmite toda a indiferença e cansaço de quem viveu mil vidas desde o primeiro momento em que aparece e suas cenas de ação são muito bacanas. Falando em cenas de ação, aquela ofensiva na praia é muito legal, inspirada no desembarque na Normandia, a tensão do desembarque , a carnificina desde o primeiro momento deixa qualquer fã de ação com um sorriso no rosto, e a emoção consegue se perpetuar a cada loop que é vivido pelo protagonista e , ainda por cima, filmado de dia, o que , para mim, demonstra qualidade.
Bem vindo à Guerra!!
   Tiveram apenas dois pontos que eu não gostei muito. O primeiro é a aparência do miméticos, embora eu tenha achado bacana a ideia de organismo de consciência coletiva e que tem uma forma bem diferente da humanoide, é difícil compreender se os alienígenas tem cabeça e pernas, se são só tentáculos, se correm ou voam e isso faz parecer , por vezes, que os humanos estão dentro de um vídeo game tipo Metroid do Super Nintendo. A outra coisa foi o final! Quando Cage destrói o ômega ele volta mais no tempo ainda e descobre que o inimigo foi destruído na madrugada anterior ao seu loop, ou seja, ele muda o futuro, mas o passado que muda? Não faz sentido!!Era para ele ter morrido e a humanidade seguir em frente... mas com Tom Cruise como protagonista, essa morte seria ficção de mais!
   A dúvida que fica é: Aqueles seres que estavam lutando contra humanidade queriam o que? Para mim, eles eram apenas uma arma de destruição em massa, que visava acabar com os ocupantes da terra para deixar a área segura para os verdadeiros interessados e , vence-los não significou o final da guerra, mas um adiamento, o que deixaria aberta a possibilidade de uma , embora improvável, sequencia. Eu Apoio !

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O Caso do Goleiro Aranha e a violência que nos cerca (Falando sério n° 2)


   A torcedora Gremista que foi flagrada ofendendo o Goleiro santista Aranha, assim como os integrantes do grupo onde ela se incluía, deve responder por seus crimes de discriminação e preconceito conforme é previsto em lei. No entanto, não concordo com o linchamento moral que a mídia vem impondo a moça, que além de causar sua demissão do trabalho e apedrejamento de sua casa, a tornaram vítima de ameaças de morte e até estupro, subvertendo a idéia de denuncia, que é a função da imprensa, ao mesmo papel de incitação de violência (se não mais grave) o qual a torcedora está sendo acusada. No entanto , atos como ocorridos no jogo Grêmio e Santos, estão se tornando cada vez mais recorrentes e para a manter a saúde de nossa sociedade, isso não pode ser mais tolerado.
Idiotice tem cura?
    Não estou tentando diminuir a responsabilidade da torcedora, apenas acredito que a resposta popular me parece exagerada. A moça não matou ninguém,o maior crime a que ela pode ser acusada é de ser idiota e uma reeducação é a punição mais acertada para esses casos, prisão em regime fechado , em um país com o sistema penitenciário como o nosso é quase como pena de morte e ,se em muitos casos um criminoso real, como um assassino , é liberto em dois anos por bom comportamento, alguém que tenha como crime ofensas (que embora graves, são vazias) não deveria ter a prisão como possibilidade de castigo; acredito que serviços comunitários , de preferencia em órgãos ligados a movimentos negros e aulas sobre o multiculturalismo brasileiro, seguidos por um pedido de desculpas público e o pagamento de uma indenização a vítima, já seriam suficientes. A prisão que é pedida por alguns poderia ficar no caso de reincidência, onde a acusada poderia ser julgado por incitação a violência, além dos outros crimes de discriminação já citados acima, mas isso é com a justiça.
   Por outro lado me compadeço com o goleiro Aranha. Por eu ser negro, entendo bem o dano que esse tipo de ofensa causa e o esforço e personalidade que um indivíduo precisa ter para levar esse tipo de situação ao conhecimento da justiça. Em nosso país, o preconceito é silencioso e discreto, mas extremamente atuante, está escondido atrás das vagas que pedem boa aparência, que embora tenham esses termos excluídos das ofertas de emprego, ainda se impõem quando solicitam foto com o currículo; são atuantes nos círculos que são veemente contra as irrelevantes cotas raciais para faculdades onde mesmo após a criação deste programa ainda tem seus números de alunos negros a menos de 10% , sendo o número desses que ingressaram na faculdade através de cotas raciais quase nulo; Está na TV que coloca o negro apenas como empregado, favelado e bandido, quando não o torna o eterno apaixonado pela filha do chefe e tendo a pobreza e o sub-emprego como únicos caminhos; todas essas situações presentes na sociedade, cristalizam o preconceito em nossa cultura , o que torna o papel do denunciante importante para que atos como o que aconteceram no jogo do dia 28 e Agosto sejam cada vez mais repudiados pela opinião pública, obviamente, dentro dos limites legais.
   O futebol é um ambiente de paixão, onde o individuo se sente protegido dentro de um grupo que compartilha desse seu sentimento, tal como a internet, onde as pessoas se sentem seguras em seu anonimato e sentem a responsabilidades por seus atos diluídos entre o grupo e por essa razão se sentem confortáveis para agir sem o mesmo nível de reflexão que em ambientes racionais. As duas situações desse caso (o repúdio e o apoio ao ato racista) são o exemplo disso, opiniões radicais pipocam de ambas as partes, li em um comentário de uma coluna do Yahoo, um sujeito que (baseado em nada) taxava o Rio Grande como o estado mais racista do Brasil, justo o estado que cultua os lanceiros negros, o galpão criolo e negrinho do Pastoreio, e, outro que dizia que o problema do gaúcho era fato de o goleiro se chamar aranha, pois “se se chamasse cobra jogaríamos rosas”, reforçando um esteriótipo ofensivo e preconceituoso falsamente justificado por outro; Já em relação aos atos racistas, não demoraram a aparecer pessoas que mostraram apoio tentando diminuir a gravidade do caso e tentando utilizar do velho cala boca, dizendo que “a vó da sua avó era índia e que não existe preconceito no Brasil”, mostrando a típica visão simplista do “deixa assim” para tentar preterir a situação; ou até quem colocasse a culpa do problema nas cotas e benefícios (como o feriado da consciência negra (pasmem!)) que os negros vem recebendo nessa última década, invertendo o culpado de forma igual a quem aponta a vítima de estupro pelo fato ter ocorrido por ela ser bonita!
   Me parece que o caso serviu para revelar não apenas o crescimento da discriminação na sociedade brasileira, mas a vulgarização da cultura do ódio. As pessoas parecem esquecer o que as palavras respeito e dignidade significam e dispostas a levar às últimas consequências atos contra pessoas cuja ideias vão de encontro as suas. Acredito que a hora de uma resposta verdadeira do governo já tenha chegado, mas que ela seja dirigida a toda a sociedade e que venha através de educação e justiça, e não restringindo a uma única torcedora idiota ou a um time de futebol uma punição que o perto do problema que se apresenta, o tempo tornará irrelevante.

Eu sempre vou acreditar